(*) Marli Gonçalves –
Antes eram de strass as pedras cintilantes que nos enfeitavam as fantasias. Nesse ano parecem ser é de stress as fantasias que usaremos no Carnaval, se é que ainda dá para ter alguma, e se é que teremos eixos nos carros alegóricos. Com plumas e penas voando pra tudo quanto é lado, fazendo-nos ver direitinho aquelas estrelas…
Stress total. No lugar de confete, bombas de efeito moral. No lugar do lança-perfume, e do cheirinho da loló, gás pimenta. Ao invés de estandartes, armas e cartazes de protesto. Não é mais caso de samba no pé, mas de “dar no pé”. Nem vou contar o medo que dá imaginar onde podem ir parar as plumas, se não forem apaziguados os ânimos desse povo que trabalha fantasiado, principalmente os vestidos de polícia e de bombeiro. Botar o bloco na rua de algumas cidades brasileiras está ficando cada vez mais difícil, e vejam que não estou só falando exatamente da tal folia de Momo, festa pagã, nem de pular quatro dias sem parar.
Estamos pulando todos os dias. Miudinho. Com os nervos à flor da pele, e desafinando na harmonia. As cidades estão enlouquecendo em série e tudo o que não foi feito, não foi planejado, não foi resolvido, está se voltando contra seus criadores. É prédio caindo. Chuva caindo. Árvores caindo. Postes caindo. Ponte partindo. Só não cai a ficha de que precisamos buscar já a solução. Só não se parte a cara de pau dos governantes que se alternam, pendendo ora para um lado, ora para outro – dependendo da situação. E da oposição.
Calor demais, avenidas e estradas derretendo. Começa a haver uma saturação e tanto de toda sorte de problemas, e que não são novos. Chuva cai todos os anos, e também no verão. Mas está fazendo muitos mais estragos nos remendos, levando o que resistiu até agora. Greves? Tem todo ano, por melhorias salariais que nunca chegam. Os reis Momo vão empurrando tudo com a barriga pelas avenidas afora e nós, meros passistas, passivos, zumbis como em clipes do Michael Jackson, fantasiados de “otários-mor”, “pagadores de impostos”, “bloco dos desiludidos”.
Nós, os que moramos nas grandes cidades, se quisermos continuar nessa, vamos ter que nos sacudir e enfrentar. Novos desafios estão sendo postos, e é hora de deixar de dizer que isso é problema de “alguém”. Daqui a pouco haverá uma grande reunião mundial, a Rio+ 20 e, a hora que forem fazer o balanço do que foi que fizemos desde a Eco-92, vamos ficar com as caras de tacho que Deus nos deu.
Vamos escrever tratados e tratados, cartas de intenções, assinaremos moções. Vamos babar muito ovo para o montão de especialistas. Levaremos os gringos até as quadras das escolas para eles verem nossas belezas naturais e, depois, nos despediremos deles com lencinhos brancos acenando da janela dos nossos aeroportos vagabundos, e agora nas mãos de grandes administradores, famosíssimos, da África e da Argentina. Compreendam: foi amor de salão. Os encontramos e “concedemos”, escutem bem – con-ce-de-mos – nossas benesses no promovido baile do leilão da bacia das almas. O bailão do governão.
O que também trava tudo é essa cada dia mais chata dicotomia entre dois tipos de poder, como se só dois tipos houvesse, um com plumas, bico grande; outros, “estrelas” que não brilham mais nem no firmamento da casa deles, tão perdidos em gostar e se lambuzar das benesses de poder. Se sou eu que faço, não é bom, porque não foi você, acha ruim. E vice-versa. Já ouviram, claro, falar na famosa “pimenta na bbb…boca dos outros”, decerto. Um diz o que não disse, outro esquece o que falou ou escreveu.
E, se antes nessa época tinha a feijoada amiga, agora é o fogo amigo que entorna o caldo sem cachaça. Até a loira metida à besta está de novo no ar fazendo ondinha com a boca, batendo sapatinho, sem querer acordar de mão dada com quem nunca dormiria com ela. Birrenta.
Gostei mesmo foi dessa ministra nova que chegou para a secretaria de Políticas para a Mulher. Já chegou dizendo tudo, levantando a poeira. Gosta de homem, de mulher, tem filha gay, já fez dois abortos assumidos, feminista. Se não é bonita, bem, quem é? A outra, ministra de narizinho arrebitado, parece mais estafeta da generala. E tenho pavor daquela outra que assumiu a Petrobras, fazendo força para parecer mais feia e rude do que já o é.
Ninguém mais precisa de máscaras a essa altura.
São Paulo, na avenida, com um monte de candidatos amontoados, sendo que alguns estão gostando, creio, exatamente desta posição, 2012.
(*) Marli Gonçalves é jornalista. Acredita que, se não pensarmos rapidamente no nosso entorno – rua, vila, bairro, cidade -, vai ser bem difícil fazer o país. Sem base, tudo rui. Nas nossas barbas.
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