Jogo de xadrez – Se na vida dos cidadãos comuns não há coincidências, na dos políticos muito menos. Especialmente quando a ordem é dourar a pílula. Quando o mercado financeiro sinalizou na segunda-feira (5) a expectativa de que em nova reunião o Comitê de Política Monetária do Banco Central do Banco Central (Copom) poderá reduzir novamente a taxa básica de juro (Selic), atualmente em 10,5% ao ano, é porque informações sobre o acanhado crescimento da economia em 2011 já tinham chegado aos ouvidos dos analistas.
Uma eventual decisão do Copom de reduzir a Selic para 9,5% ao ano – essa é a expectativa do mercado financeiro – sinalizará a decisão do governo de, repetindo o que fez Lula em 2008, apostar todas as fichas no consumo interno, como forma de evitar a desaceleração da economia. Um recuo no crescimento econômico seria catastrófico para o PT, que pretende ganhar terreno político regionalizado a partir das eleições municipais deste ano.
Como qualquer oscilação negativa da economia colocaria ao rés do chão o projeto de poder do PT, os palacianos agora se empenham para encontrar uma tábua de salvação. E mais uma vez a saída será empurrar os brasileiros para o consumismo. No contraponto, estimular o consumo interno não será tão fácil, pois a onda de consumo excessivo que ganhou corpo a partir de 2009 produziu efeitos desastrosos, como o endividamento recorde das famílias e a disparada da inadimplência. Sem contar que a resistência da inflação é um fator comprometedor da economia. Diante de cenário tão complexo, bancos e instituições financeiras endureceram as regras para a concessão de crédito ao consumidor e pouco ou nada reduziram as efetivas taxas de juro, que continuam sendo as mais altas do planeta.
O segredo desse enigma que tira o sono de muitos que frequentam o Palácio do Planalto está em uma severa política de ajuste fiscal e de redução real de despesas, algo que em ano eleitoral é tarefa das mais inglórias. Sendo assim, a melhor das receitas é não cair na esparrela palaciana e apertar o cinto.