Porto de Santos é investigado por conta de suposta venda de cachorros para abate em navios asiáticos

Cardápio da discórdia – A semana que ora termina foi marcada por uma denúncia grave que acabou agitando as redes sociais. Não bastassem as tantas histórias e estórias que marcam as zonas portuárias pelo mundo afora, o Porto de Santos, no litoral paulista, estaria sendo utilizado por pessoas cruéis que visam apenas o lucro. Recebendo embarcações de todas as partes do planeta, o que significa que por lá aportam também culturas e costumes distintos, o Porto de Santos está sendo investigado por conta da venda de cachorros aos tripulantes de navios coreanos, que em seu país têm o hábito de comer carne canina.

Vice-líder do PSDB na Câmara, o deputado federal Ricardo Tripoli (SP), tão logo tomou conhecimento das denúncias, acionou o Serviço de Vigilância Agropecuária (SVA) no Porto de Santos, órgão fiscalizador do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. De igual modo o parlamentar cobrou explicações da Coordenadoria de Proteção à Vida Animal da Secretaria de Meio Ambiente de Santos (Coprovida), que depende de indícios ou provas para tomar providências.

Nesta sexta-feira (16), fiscais da Coprovida foram ao Porto de Santos para uma inspeção. Coordenadora interina do órgão, Maria Isabel Francisca da Hora disse que “Até agora não existe nenhum indício ou prova de que esteja ocorrendo comércio ilegal de cães em navios no Porto de Santos. Mas como recebemos as denúncias, decidimos apurá-las”.

“Como há uma série de autorizações necessárias para entrar no porto, vamos falar com a vigilância, que tem acesso frequente ao local. Se houver necessidade, ou indício de que algum cão esteja sendo levado para lá, podemos pedir ajuda também à Polícia Federal”, completou Maria Isabel.

O assunto ganhou as redes sociais depois que a foto de um caminhão carregado com cachorros foi publicada na internet, mas a coordenadora da Coprovida esclarece que a imagem não é de Santos, mas provavelmente de algum país asiático, onde o consumo de carne canina faz parte dos costumes locais. “Queremos esclarecer que a foto dos cães no caminhão não tem qualquer relação com nossa cidade. É perigoso utilizar aquela imagem porque dá a entender que isso está ocorrendo aqui”, disse.

O SVA informou que improvável que esse tipo de ação esteja ocorrendo no Porto de Santos, uma vez que o código de segurança internacional para entrada e trânsito em zona portuária é extremamente rigoroso. Diante da evasiva resposta, o parlamentar tucano disse que continuará acompanhando as denúncias. “Essa não é a primeira vez que surge fato envolvendo cães que estariam sendo entregues a titulo oneroso, clandestinamente, para navios coreanos, no Porto de Santos. Estou a par dos acontecimentos e manterei a população informada”, declarou o deputado.

Ricardo Tripoli destacou que se a entrada desses ambulantes se der por meio escuso, como parece, a atribuição de apuração e entrada no navio seria da Polícia Federal, que constatando a presença animais, a serem transportados ilegalmente, poderia acionar o SVA e seus veterinários para as providências de rotina.

A alegação de que o código de segurança para o ingresso em área portuária é rigoroso não passa de retórica oficial, para não afirmar que é balela, pois é sabido que no Porto de Santos, assim como em muitos outros ao redor do mundo, circulam pessoas alheias às operações locais. Denúncias, muitas das quais as autoridades preferem ignorar, dão conta que traficantes e prostitutas são frequentadores assíduos do cais santista.

No Guarujá, cidade localizada na Ilha de Santo Amaro e que abriga uma das margens do Porto de Santos, a favela Sítio da Conceiçãozinha é o atalho ideal para que muitos desses intrusos alcancem os enormes navios que chegam por lá. Através desse canal não monitorado muitas mercadorias são oferecidas aos tripulantes das embarcações, entre elas cachorros de rua. A ilegal e cruel venda de cães mostra não apenas a sordidez humana, mas a inoperância dos responsáveis pelo maior porto brasileiro.