(*) Marli Gonçalves –
Acabou o verão que não criou moda, mas quase nos escaldou. Chega a estação que nos prepara para começar tudo de novo. Começou o ano. Mas, vamos combinar? Para falar de amareladas, melhor inspiração não há que seja melhor do que essas birutas do governo, mais desencontradas do que as cigarras e as formigas das fábulas. A propósito: não assine nada perdoando o que ainda não assistiu.
Será que pode ou vai poder? Eu disse poder, ouça bem. Hoje dizem que não; mas amanhã de manhã, quem sabe? Há dias que a manchete do jornal nos faz rir (ou tremer) logo cedo e até a hora do almoço já pode ter perdido a validade. Claro que vocês também estão acompanhando os acontecimentos, e sabem que não estou falando só de liberar bebidas ou não na Copa, essa “rica” e instrutiva discussão. Refiro-me à Cozinha, de onde saem os pratos que nos enfiam goela abaixo.
Está parecendo piada, reunião de doidos e doidas batendo a cabeça, com cada um correndo para um lado para atender ordens imprecisas, contraditórias, e iguais às folhas das árvores que caem no outono: prontas a serem pisadas e fazer aquele barulhinho de créc-créc. Trocam seis por meia dúzia, e os desesperados voltam-se ansiosos para o Grande Buda, que ora está no hospital, ora a caminho de casa, com seu fotógrafo particular de bolso. A impressão é a de que há muito mais comandos do que a vã filosofia, e do que a que elegemos. Isso não é nada bom, tsc, tsc, tsc…
Amarelar também quer dizer dar no pé, recuar. Há inclusive um tal verde-oliva querendo voltar a ser moda, cor da estação, manter-se presente nos editoriais. Um puxa de lá; outro de cá. Fazem exercícios de braço-de-ferro, puxam a corda em cabo de guerra, mostram a língua uns para os outros, abrem as braguilhas para mostrar e decidir quem tem o maior. Batem os pés e os pratos na mesa do jantar, empunhando afiadas facas e garfos.
Enquanto isso, lá na Cozinha é sensível o certo nervosismo dos aprendizes. Uma sua, arregala os olhos, histriônica; a outra arrebita o nariz e fareja infidelidades, inclusive partidárias, além das “come-zinhas”. Até a pesca foi renovada, para ver se rendia algum gosto pela coisa. Duvi-de-o-dó que se perguntarmos de sopetão os mais de 40 itens do cardápio de ministros, ministérios, secretarias, algum deles saiba responder. Não andam mesmo merecendo gorjetas nem gratificações.
Mas chegou o outono e temos de nos preparar, já que nós mesmos não conseguimos muitas chances nem de veranear, quanto mais de hibernar. Vai esfriar um pouquinho, mas não interessa, porque vamos continuar reclamando porque nunca nada está bom mesmo para todos. Essa estação é boa pra essas confusões: frio-calor-seca-chuva. E elas, as folhas, vindas lá de cima com sua graciosa dança ao vento sobre nossas cabeças.
Daqui para a frente já vai ser mais comum encontrar com a ignorância varrendo calçadas com mangueiras de água preciosa, como se vassouras fossem. Saber de gente querendo cortar árvores porque as folhas sujam suas consciências e casas. Mais uns dias de reza na Semana Santa, e chega o aquecimento para a maratona eleitoral. As pistas de treinamento estão cheias, mas com poucas promessas de campeões de destaque. A não ser na turma dos fantasiados que sempre surgem, como palhaços do show, para ganhar uma camiseta e um pouco de fama – essa, que corre mais do que todos juntos.
Portanto, pés no chão. Aquela blusinha a mais por perto – a da meia-estação. Beba muita água, que a coisa vai secar. Faça um estoque de chocolates, que são bons antidepressivos em alguns momentos, mas também excelentes para comemorar certos “depois”, aqueles imortalizados pelo cigarrinho.
Mas, por favor, fique atento. Não permita que o nosso país vire chacota nem nossa, nem internacional. Pare e pense; só não pare no acostamento. Vermelho, amarelo, verde. Olhe bem para os dois lados. De vez em quando acontecem algumas vergonhas, que dão vontade é de chorar.
Juro que li, ouvi, soube. Horrível. Que houve um caso de racismo em um palco paulista, mais uma vítima das piadas sem qualquer graça que enriquecem meninos como se fossem os que aparecem como gênios da informática.
Sabe o que para mim foi muito mais horrível? Saber que houve um monte de pessoas assinando um documento – ANTES do rock-horror-show – e onde se comprometiam a não se sentirem ofendidos, não se magoarem, e até rirem muito, antes de saber o que seria dito HAHAHA!
Você já tinha visto isso? Pois foi. E assinado por mulheres, negros, gordos, feios, baixinhos…
Que venha logo o outono para refrescar nossas cabeças!
São Paulo, na estação que chega às 2h14 de uma terça-feira, 2012
(*) Marli Gonçalves é jornalista. Já pensou se essa moda pega? Assina aqui: “Prometo não me aborrecer com as bobagens da política, com o síndico do prédio, com o barulho da sua obra, com as sacanagens que me fará, com as coisas que vai levar e não devolver, com as agressões à inteligência, etc., etc., etc.”
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