Ouvidos moucos – Quando algum problema político lhe tirava o sono, o então presidente Luiz Inácio da Silva se postava diante de câmeras e microfones e lançava mão de qualquer explicação. Por mais estapafúrdia que fosse a declaração, o assunto acabava restrito aos bastidores palacianos. No caso de Dilma Rousseff, a situação é completamente diferente. Enfrentando a mais grave crise política desde que chegou ao principal gabinete do Palácio do Planalto, a presidente decidiu ignorar a rebelião que toma conta da base aliada no Congresso Nacional.
Após ser derrotada no Senado Federal durante a votação para reconduzir Bernardo Figueiredo à direção-geral da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), Dilma passou a fingir que nada acontece no Congresso Nacional, deixando o assunto para seus assessores, que, como se sabe, não esbanjam competência. O que não significa que Dilma saiba como lidar com o assunto.
Ao ignorar o comportamento de boa parte da base aliada, a presidente colabora para que a crise aumente a cada dia, colocando em jogo a estabilidade de um governo que não é dos mais convincentes. Dilma foi alertada sobre a necessidade de se dialogar com os congressistas por alguém que sabe a fundo o que significa desdenhar os reclamos parlamentares. Neste caso, o alerta foi dado por ninguém menos que Fernando Collor de Mello, senador por Alagoas, que enquanto esteve presidente preferiu ignorar os congressistas. Foi então que os brasileiros ouviram pela primeira vez a palavra “impeachment”.