Cinemateca Brasileira faz mostra em homenagem ao centenário de Mazzaropi

Jeca Tatu – Há exatos cem anos, em 9 de abril de 1912, nascia em São Paulo aquele que foi o mais bem sucedido empresário brasileiro do cinema popular, Amácio Mazzaropi. Tradução fiel do caipira brasileiro, Mazzaropi será alvo de homenagem por seu centenário de nascimento, com mostra de alguns de seus filmes Mazzaropi realizada pela Cinemateca Brasileira.

A mostra, que termina no dia 15 de abril, trará, entre outros filmes, quatro clássicos do comediante em cópias restauradas pela própria Cinemateca: “Zé do Periquito”, de 1961, “O Lamparina”, de 1963, e “O Corintiano”, e “O Puritano da Rua Augusta”, ambos de 1966.

Filho de um imigrante italiano, Bernardo Mazzaropi, e da portuguesa Clara Ferreira, Mazzaropi muda-se os dois anos com a família para Taubaté, cidade do interior paulista, mas logo em seguida passou a frequentar com assiduidade a casa do avô materno, o português João José Ferreira, animador de festas no município de Tremembé. O convívio com o avô serviu de inspiração para Mazzaropi.

Teatro, rádio e televisão

Com a Revolução Constitucionalista de 1932 segue-se uma grande agitação cultural e Mazzaropi estreia em sua primeira peça de teatro, chamada A herança do Padre João. Já em1935, consegue convencer seus pais a seguir turnê com sua companhia e a atuarem como atores. Até 1945, a “Troupe Mazzoropi” percorre muitos municípios do interior de São Paulo, mas não há dinheiro para melhorar a estrutura da companhia.

Com a morte da avó materna, Mazzaropi recebe uma herança e consegue dinheiro para comprar um telhado de zinco para seu pavilhão, podendo assim estrear na capital, com atuações elogiadas por jornais paulistanos. Em seguida, parte com a companhia em turnê pelo Vale do Paraíba. A grave situação de saúde de seu pai complica a situação financeira da companhia de teatro e, em 8 de novembro de 1944, falece Bernardo Mazzaropi .

Dias após a morte de seu pai, estreia no Teatro Oberdan ao lado de Nino Nello, sendo ator e diretor da peça “Filho de sapateiro, sapateiro” deve ser, acolhida com entusiasmo pelo público. Em 1946, convidado por Dermival Costa Lima, da Rádio Tupi, estreia o programa dominical “Rancho Alegre”, encenado ao vivo no auditório da rádio, sob a direção de Cassiano Gabus Mendes. Em 1950, este mesmo programa estreou na TV Tupi, mas agora contava com a participação de João Restiffe e Geny Prado.

Cinema

Em 1952, Mazzaropi estreia seu primeiro filme, “Sai da Frente”, rodado pela Companhia Cinematográfica Vera Cruz, onde filmaria mais duas películas. Com as dificuldades financeiras da Vera Cruz, Mazzaropi faz, até 1958, mais cinco filmes por diversas produtoras.

Naquele mesmo ano, vende sua casa e cria a PAM Filmes (Produções Amácio Mazzaropi). “Chofer de Praça” é o primeiro filme da nova produtora, que, além de produzir, distribuía as películas em todo o Brasil. Em 1959 é convidado por José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, à época na TV Excelsior de São Paulo, a fazer um programa de variedades que ficou no ar até 1962. Neste mesmo ano começa a produzir um de seus filmes mais famosos, o “Jeca Tatu”, que vai aos cinemas no ano seguinte.

Em 1961, Mazzaropi adquire uma fazenda onde inicia a construção de seu primeiro estúdio de gravação, que produzirá seu primeiro filme em cores, “Tristeza do Jeca”, que também será o primeiro filme veiculado na televisão pela Excelsior e a ganhar prêmios para melhor ator coadjuvante, Genésio Arruda, e melhor canção.

Cinco anos mais tarde, lança o filme “O Corintiano”, recorde de bilheteria do cinema nacional. Em 1972 é recebido pelo então presidente da República, general Emílio Garrastazu Médici, ao qual pede mais apoio ao cinema brasileiro. Em 1974, roda “Portugal, minha saudade”, com cenas gravadas no Brasil e em Portugal.

No ano seguinte, começa a construir em Taubaté um grande estúdio cinematográfico, oficina de cenografia e um hotel para os atores e técnicos. A partir de então produz e distribui mais cinco filmes até 1979.

Após 26 de internação no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, Mazzaropi morre aos 69 anos, vítima de câncer na medula óssea. Enterrado na cidade de Pindamonhangaba, Mazzaropi nunca se casou, mas deixou um filho adotivo, Péricles Mazzaropi.

Em 1994 é inaugurado o Museu Mazzaropi, localizado na mesma propriedade dos antigos estúdios, recolhendo a história da carreira de um dos maiores nomes do cinema, do teatro e da televisão brasileiros. Foi somente na década de 1990 que a cultura brasileira começou a ver de uma outra óptica a obra de Mazzaropi, que durante sua vida sempre foi duramente atacado (ou ignorado) pela crítica e pela intelectualidade.