Face lenhosa – A prova que faltava para confirmar as intenções petistas em relação à “CPI do Cachoeira” veio com uma declaração do presidente nacional do Partido dos Trabalhadores, Rui Falcão, que está conclamando a militância para tentar provar que o escândalo que ficou nacionalmente conhecido como “Mensalão do PT” é uma farsa. O palavrório de Falcão provocou reação imediata do presidente do PSDB, Sérgio Guerra, que disse ser o dirigente petista um mentiroso.
A queda de braços entre os situacionistas e a oposição deverá marcar a CPI que, de acordo com a vontade de estrelados petistas, será criada para interferir no julgamento do mensalão, pelo Supremo Tribunal, que deseja colocar o assunto na pauta da Corte até junho próximo.
Em vídeo produzido exatamente para esse fim, Rui Falcão ataca o governador de Goiás, Marconi Perillo, mas não faz qualquer menção ao envolvimento do governador petista do Distrito Federal, o neopetista Agnelo Queiroz, e seus assessores com o esquema do contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira.
“Nós queremos que uma CPI possa apurar todos os vínculos desse senador e de vários políticos de diferentes partidos com o jogo do bicho, com contrabando, com informações privilegiadas sobre operações policiais. É um esquema que chega ao governador de Goiás Marconi Perillo, que tenta colocar todo mundo na vala comum. Essa semana mesmo ele disse que em Goiás todo mundo tinha relações com Carlinhos Cachoeira”, diz Falcão, que preferiu ignorar o suposto envolvimento do deputado Rubens Otoni e do secretário Olavo Noleto, da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República e que responde à já enrolada ministra Ideli Salvatti.
O discurso boquirroto de Rui Falcão aponta o grau desespero que toma conta da cúpula do PT, cada vez mais convicta da condenação da extensa maioria dos envolvidos no caso do mensalão. A operação foi arquitetada à distância por Luiz Inácio da Silva, que forçou a bancada petista do Congresso a aderir a ideia de se criar a CPI do Cachoeira, desde que respeitadas as limitações que interessam ao partido.
Não foi por acaso que o advogado Márcio Thomaz Bastos, ex-ministro da Justiça no governo Lula, assumiu a defesa do bicheiro goiano. Qualquer criminalista minimamente experiente sabe que um cliente do naipe de Cachoeira tem informações de sobra para derrubar seus acusadores. Na hipótese de isso acontecer, o PT seria alvo de uma implosão sem precedentes, que colocaria por terra não apenas o partido, mas o ganancioso projeto de poder de alguns “companheiros”.
Se Rui Falcão é o mais recente paladino da moralidade que aterrissou no planeta, que ele cobre explicações de José Dirceu de Oliveira e Silva, o poderoso-chefão do PT. Dirceu, como provam documentos, foi contratado pelo empresário Fernando Cavendish para facilitar a aproximação da Construtora Delta com o governo federal. Coincidência ou não, a Delta é uma das empreiteiras que mais cresceram no governo de Luiz Inácio da Silva.
Ainda questionando a lufada de moralidade que sopra sobre o histriônico Rui Falcão, é preciso que Antonio Palocci Filho, que conseguiu a proeza de turbinar seu patrimônio em velocidade meteórica, explique como se lida com empresários da jogatina. Afinal, Palocci recebeu dinheiro de bingueiros angolanos em sua campanha eleitoral. Os mesmos bingueiros despejaram R$ 1 milhão na campanha de Lula, em 2002.
Se Rui Falcão tiver dúvidas a respeito do assunto, o que é normal em um partido que se transformou em usina de corrupção, que pergunte ao empresário Roberto Carlos Kurzweil, que foi sócio dos angolanos Artur José Valente de Oliveira Caio e José Paulo Teixeira Cruz Figueiredo, o Vadinho. Uma das empresas de Kurzweil, a Locablin, tinha listado em seu imobilizado o Chevrolet Ômega que foi cedido ao mensaleiro Delúbio Soares, após ter sido ejetado da tesouraria do PT. A mesma Locablin locou, antes disso, três outros carros – dois Ômegas e um Passat alemão – usados na campanha petista de 2002. Em depoimento à CPI dos Bingos, Kurzweil disse sem titubear: “O Lula, o Palocci e o Dirceu andaram em carros alugados por minha empresa na campanha”.
Rui Falcão pode dizer o que bem quiser, pois ainda vivemos em uma democracia, mesmo que já esgarçada, mas não se pode desdenhar da memória de jornalistas que não integram a “imprensa chapa branca”, régia e mensalmente remunerada com polpudos contratos publicitários, quando não com dinheiro oriundo da corrupção que grassa do Oiapoque ao Chuí.
Quando os tentáculos do “Mensalão do PT” começaram a avançar sobre o Congresso Nacional, o então deputado federal Roberto Jefferson (PTB-RJ) alertou Lula, José Dirceu, Ciro Gomes, Miro Teixeira e Walfrido dos Mares Guia sobre o fato de que o governo estava comprando a base aliada com as tais mesadas, assunto que foi confirmado por todos perante a Justiça, muito antes de vir à tona o vídeo em que Maurício Marinho aparece recebendo propina de um outrora fornecedor dos Correios.
Mesmo assim, Rui Falcão, que teme ser obrigado a visitar os “companheiros” na prisão, pode contestar todos esses fatos aqui relatados, mas não poderá ignorar o acordo que Silvio Pereira, o Silvinho Land Rover, então secretário-geral do PT, fez com o STF, substituindo uma eventual pena por prestação de serviços comunitários. Ora, se Silvinho Pereira optou por essa barganha jurídica é porque o crime realmente foi cometido.
Contudo, Rui Falcão pode não estar convencido diante de tantas provas incontestáveis, mas é um direito que cabe a qualquer cidadão que ousa ser uma ode à desfaçatez. Sendo assim, um colóquio rápido com o marqueteiro Duda Mendonça, responsável pela campanha petista de 2002, pode servir como divisor de águas parra o pensamento de Falcão. Afinal, Duda recebeu em conta bancária no exterior, registrada em nome da “offshore” Düsseldorf, parte dos honorários da campanha que levou Lula ao Palácio do Planalto pela primeira vez.