Pau mandado – Sem consultar o PSol, legenda que vem defendendo investigação ampla e irrestrita do escândalo que tem no vértice principal o bicheiro Carlinhos Cachoeira, lideranças partidárias reuniram-se nesta quinta-feira (12) no Congresso Nacional e definiram os parâmetros da CPI que será criada para esclarecer as relações do contraventor goiano preso pela Polícia Federal em 29 de fevereiro passado.
Para provar que o interesse do Partido dos Trabalhadores é criar um factóide que crie uma cortina de fumaça sobre o julgamento do escândalo do “Mensalão do PT” e leve a oposição a sangrar politicamente até as eleições de outubro, a CPI do Cachoeira se limitará a investigar dados relativos às operações Vegas e Monte Carlo, ambas da Polícia Federal, o que evitará incômodos para José Dirceu e Delúbio Soares, entre tantos outros petistas envolvidos no caso do mensalão.
A outra decisão tomada é que as investigações da CPI não se limitarão à seara política, mas serão estendidas aos Poderes Executivo e Judiciário, à iniciativa privada e à imprensa nacional. Essa manobra diversionista não passa de uma jogada rasteira dos partidos que comandam o Congresso (PT e PMDB), pois é sabido que uma investigação profunda e adequada alvejará, com larga facilidade, integrantes de ambas as legendas.
Na cascata de denúncias que surgiu após a estreia do calvário do senador Demóstenes Torres estão políticos destacados, como os governadores Sérgio Cabral Filho (PMDB), do Rio de Janeiro, e Agnelo Queiroz (PT), do Distrito Federal.
No Rio de Janeiro, a Construtora Delta, empresa que segundo a PF pertence a Carlinhos Cachoeira, tem contratos com o governo de Cabral Filho no valor de R$ 600 milhões, sendo que R$ 164 milhões foram contratados sem licitação. Para quem não se recorda, o governador fluminense usou um jatinho do empresário Eike Batista para ir a Salvador, onde comemorou o aniversário de Fernando Cavendish, que documentalmente consta como proprietário da Delta. Naquele trágico final de semana, que deveria ser dedicado a festas e tapinhas nas costas, um acidente de helicóptero na capital baiana ceifou a vida de alguns integrantes do grupo convidado por Cavendish, inclusive a nora de Sérgio Cabral Filho.
Ainda no universo da Delta, a empresa comandada por Fernando Cavendish tem ligações com José Dirceu, ex-chefe da Casa Civil e deputado cassado no vácuo do escândalo do “Mensalão do PT”. E não foi por acaso que a Delta foi incumbida de construir o “puxadinho” no Aeroporto de Guarulhos, em um antigo e desativado terminal de cargas da falida Vasp. Para quem não se recorda, o telhado do treminal de passageiros erguido pela Delta desabou dias antes da inauguração.
A ligação entre José Dirceu é Fernando Cavendish foi confirmada pelos empresários José Augusto Quintella Freire e Romênio Marcelino Machado, antigos proprietários da Sigma Engenharia, que acabou incorporada pela Delta. Quintella e Machado acusam o ex-comissário palaciano e chefão do PT de fazer tráfico de influência em favor da Delta. De acordo com os dois empresários, Dirceu foi contratado por Cavendish para facilitar negócios com o governo federal. O negócio entre o trio – Cavendish, Quintella e Machado – deu errado e acabou na Justiça.
Para não levantar suspeitas, a Delta contratou José Dirceu como consultor para negócios no Mercosul. Receberia modestos R$ 20 mil mensais pelo trabalho. Segundo relataram os antigos donos da Sigma, a empresa de engenharia passou a ser usada por Cavendish para fazer transferências bancárias a Dirceu.
No que se refere ao petista Agnelo Queiroz, a Polícia Federal divulgou gravações em que o governador do Distrito Federal mostra interesse em conversar com Carlinhos Cachoeira. O contraventor, por sua vez, deu ao araponga Idalberto Matias de Araújo, o Dadá, homem de sua confiança, a missão de identificar o desejo de Queiroz. Fora isso, o assessor palaciano Olavo Noleto, subordinado à ministra Ideli Salvatti, acenou com pedido de demissão depois que seu nome apareceu na lista de contatos de Cachoeira. Contudo, o staff palaciano fez o assessor desistir da ideia.
Se dependesse do Palácio do Planalto, a criação da CPI para investigar Carlinhos Cachoeira seria abortada, pois ainda é grande o temor por conta de eventuais respingos. A ideia só avançou por pressão de Luiz Inácio da Silva, que quer turbinar a candidatura do inócuo Fernando Haddad, que em outubro disputará a prefeitura da maior cidade brasileira, São Paulo. Resumindo, a CPI do Cachoeira será um escândalo maior do que o protagonizado pelo bicheiro e sua horda.