Sinuca de bico – Quando alguém morre, os que ficam sempre desejam paz àquele que “parte para melhor”, como garante a crendice popular. No caso do ex-deputado José Janene, o xeique do escândalo que ficou nacionalmente conhecido como “Mensalão do PT”, a situação é bem diferente. Paranaense de Santo Inácio, José Mohamed Janene morreu em 14 de setembro de 2010, em decorrência de complicações cardíacas e de um acidente vascular cerebral (AVC), deixando aos seus herdeiros patrimônio tão extenso quanto os problemas que continuam surgindo com regularidade.
Sendo verdadeira a tese de que cadáveres às vezes viram na sepultura, no Cemitério Islâmico de Londrina há pelo menos um esquife bagunçado ou prestes a isso. Tudo porque tramita na Justiça um processo originado por descumprimento das obrigações de fiel depositário, envolvendo uma empresa que oficiosamente pertencia a José Janene.
Em uma ponta do processo de execução está a BB Leasing, que quer o dinheiro que lhe cabe ou os bens financiados de volta. A família do finado parlamentar insiste em ignorar a propriedade, mesmo que indireta e transversa, mas documentos e fotografias provam o contrário. Em uma das fotos, a filha de José Janene, Daniele (de preto na foto ao lado), aparece no galpão da empresa acompanhando o trabalho de dois funcionários e dando ordens. Fora isso, o imóvel onde estava instalada a empresa sempre foi frequentado por Meheidin Jenani, primo do então deputado, e um sobrinho, filho de Assad Janene.
A Dunel, indústria que utiliza tecnologia de ponta para desenvolver equipamentos de certificação, recebeu, a mando de Janene, aporte financeiro da empresa CSA, com sede na capital paulista, no bairro do Itaim Bibi. O escritório da CSA serviu durante longo período como base para as reuniões nada ortodoxas de José Janene. Por lá passaram, para tomar a “bênção de José Janene, diversos operadores do “Mensalão do PT”, doleiros conhecidos e gazeteiros ligados a alguns executivos da Petrobras.
O sumiço dos equipamentos e veículos, financiados pela BB Leasing, foi comunicado pelos diretores da Dunel à Polícia Federal e ao Ministério Público Federal, em Curitiba, e ao Gaeco do Paraná, mas nada foi feito pelos três órgãos para impedir a ilegalidade.
Há documentos de sobra para provar o conluio nefasto que surgiu entre José Janene e os proprietários da CSA, que acabou investindo dinheiro na Dunel sem a exigência de qualquer contrapartida ou garantia, como se as ordens do finado deputado fossem incontestáveis e calcadas em alguma usina de branqueamento de capitais.
Entre as tantas máximas do Direito há a que garante que aquele que herda direito também herda deveres. Sendo assim, os filhos de Janene que se preparem, pois se os bens misteriosamente desaparecidos não forem devolvidos, a conta irá muito além do ressarcimento do valor cobrado pela BB Leasing.
Conhecido por abusar da arrogância e da soberba, José Janene sabia operar nos bastidores da política e dos negócios, talento que não transferiu aos filhos. E diz a lenda que castelo de areia em algum momento desmorona.