Inadimplência dispara em março e compromete aposta do governo no consumo interno

Mal na foto – Se em dado momento da história universal alguém afirmou que o cenário econômico depende também de orações, os frequentadores do Palácio do Planalto devem a partir de agora passar os dias no genuflexório. Não bastassem as previsões de crescimento modesto da economia em 2012 (3,2%), contra 4,5% anunciado pelo governo, a Serasa Experian divulgou nesta segunda-feira (16) os dados da inadimplência no País. De acordo com a entidade, o número de consumidores brasileiros que atrasaram o pagamento de suas contas em março subiu 4,9%, em comparação com o mês anterior. Trata-se da primeira alta após três quedas consecutivas.

Na comparação com o mesmo mês de 2011, o aumento da inadimplência foi de 19,8%. No acumulado do primeiro trimestre do ano, a elevação chega a 18,2%, se comparada com o mesmo período do ano passado.

Segundo a Serasa, o movimento de alta ocorreu em todas as modalidades de crédito consideradas pela pesquisa. A maior elevação foi encontrada nos protestos (24,5% mais do que em fevereiro). Porém, os itens que mais influenciaram a variação positiva foram as dívidas não bancárias – financeiras, lojas em geral e prestadoras de serviços – e cheques sem fundos, com altas de 6,9% e 18%, respectivamente. Os débitos com bancos subiram 0,2% de um mês para o outro.

O valor médio das dívidas também cresceu. Os débitos dos consumidores com instituições não bancárias, em março de 2011, eram, em média, R$ 317,81. Em março de 2012, esse valor subiu para R$ 404,57, elevação de 27,3%. O valor médio dos cheques sem fundo saltou de R$ 1.264,35 para R$ 1.428,37, aumento de 13%. Títulos protestados subiram 9,7%, com elevação de R$ 1.213,92 para R$ 1.331,74. Já o valor médio dos débitos com bancos aumentou apenas 0,1%, passando de R$ 1.285,45, no terceiro mês do ano passado, para R$ 1.286,65, no mesmo período de 2012.

De acordo com os economistas da Serasa, o aumento da inadimplência em março é decorrente da sazonalidade. Para eles, o período coincide com o fim do pagamento do Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores (IPVA) e com outras despesas como o Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) e os gastos escolares. Além disso, os juros elevados ainda causam impacto nas contas do consumidor mais endividado no cheque especial e no rotativo do cartão de crédito. Eles lembram ainda que fevereiro deste ano registrou dezenove dias úteis, contra 22, em março – o que também se reflete no aumento do indicador.

Mesmo diante de um cenário desanimador e que piora a cada dia, o governo continua apostando no consumo interno para barrar os efeitos da crise que sacoleja a União Europeia.