Pano quente – Na história política brasileira jamais se viu situacionistas e oposicionistas interessados na abertura de uma CPI. De igual modo não se tem registro de um governo que tenha esboçado interesse em uma investigação cujos rumos são tão desconhecidos quanto perigosos. Quando o escândalo envolvendo o bicheiro Carlinhos Cachoeira alvejou o senador Demóstenes Torres (sem partido – GO), até então um dos mais contundentes críticos do Palácio do Planalto, o PT se animou diante da possibilidade de estocar a oposição e levou adianta a ideia.
Um dos incentivadores foi o ex-presidente Luiz Inácio da Silva, que operou nos bastidores para que a CPI se tornasse uma realidade, enquanto o Palácio do Planalto se dedicava a acalmar os ânimos dos defensores da investigação. Tudo porque os desdobramentos da Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, continuam sendo uma enorme incógnita. Se soubessem dos estragos com a devida antecedência, os palacianos teriam pedido ao ministro José Eduardo Cardozo, da Justiça, uma declaração diferente sobre a validade das provas obtidas contra Demóstenes. De maneira idêntica teriam atuado na direção de Rui Falcão, presidente nacional do PT, que defendeu a criação da CPI para investigar Demóstenes e principalmente para provar que o mensalão é uma farsa. Resumindo, dois tiros no pé com direito a estrela vermelha.
Com o surgimento de petistas no mais recente imbróglio de corrupção do País, o PT, que antes tinha pressa para apurar os fatos e criar uma cortina de fumaça sobre o julgamento do caso do mensalão, agora alega que é preciso calma para coletar as assinaturas necessárias para a criação da CPI mista (27 no Senado Federal e 171 na Câmara dos Deputados). Líder do PT no Senado, o baiano Walter Pinheiro declarou no último sábado (14) que “não adianta ficar colocando prazo” para o fim da coleta de assinaturas favoráveis à criação da Comissão que investigará os tentáculos de Carlinhos Cachoeira no mundo político e empresarial.
A repentina mudança do discurso até então moralista do PT resultou da reunião entre a presidente Dilma e o ex-metalúrgico Lula, em São Paulo, na última sexta-feira (13). Durante o encontro, criador e criatura decidiram que o melhor é ter cautela em relação à “CPI do Cachoeira”, a ser criada ainda nesta semana, que pode arremessar à lama da corrupção muitos mais companheiros e aliados do que os caciques palacianos imaginam. Ainda sem ver decolar o próprio governo, Dilma quer distância de escândalos, assunto ao qual se dedicou durante 2011. Por outro lado, a insistência da oposição em criar a CPI e aprofundar as investigações pode ser explicada pela eventual existência de algum peixe graúdo nesse oceano de falcatruas.