Redução da taxa básica de juro coloca o governo na encruzilhada da caderneta de poupança

Faca de dois gumes – A berlinda da caderneta de poupança voltou ao patamar de 2009. Naquele ano, a taxa básica de juro, a Selic, estava em fixada 8,75% e o governo federal cogitou cobrar impostos sobre investimentos em poupança acima de R$ 50 mil. A ideia foi abandona logo abandonada porque em seguida a Selic voltou a subir, como forma de conter a escalada do consumo e minar a resistência da inflação.

Com a decisão do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) de reduzir a taxa básica de juro para 9% ao ano, a caderneta de poupança tornou-se ainda mais vantajosa do que os investimentos de curto prazo em fundos de renda fixa. Nas aplicações de até seis meses, os fundos com taxa de administração inferior a 0,50% ao ano, rendem mais que a poupança. Entre seis meses e um ano de aplicação, os fundos com taxa superior a 1,50% anuais também não conseguem acompanhar a rentabilidade da caderneta de poupança. Vale lembrar que, além da taxa de administração, os fundos estão sujeitos à cobrança de Imposto de Renda. Algo que inexiste na caderneta.

Analistas do mercado financeiro entendem que o governo brasileiro já deveria ter tomado medidas para evitar uma migração excessiva de investidores para a poupança, o que deve crescer a partir de agora. Independentemente da decisão a ser tomada, o governo sempre estará refém da própria incompetência. O rendimento da poupança, de 6,17% ao ano mais taxa referencial (TR), é garantido por lei.

Caso ignore a necessidade de novas regras para a poupança, o governo provocará uma reviravolta no mercado de investimentos, mais especificamente dos fundos, que também servem como fonte de captação de financiamento mais em conta para o setor produtivo. No outro vértice, a migração dos investidores para a poupança obrigará o aumento do crédito ao setor habitacional, o que pode emperrar diante da inadimplência crescente e a lenta evolução do salário do trabalhador.

Historicamente o mercado financeiro sempre se encontrou formas de ajuste, mas mudanças as regras da poupança são cobradas desde 2007. Acontece que qualquer alteração na caderneta de poupança depende do Congresso Nacional. Em ano eleitoral, nem mesmo uma reencarnação de Messias seria capaz de convencer um parlamentar a defender, por exemplo, remuneração fixa para a poupança, sempre atrelada a um percentual da Selic. Uma reviravolta como essa mandaria para o espaço aqueles brasileiros que durante anos a fio economizaram para garantir uma aposentadoria minimamente melhor do que a oficial.

A pressão do governo para que a taxa básica de juro caia encontra explicação na tese palaciana da aceleração do consumo interno como forma de neutralizar os efeitos colaterais da crise econômica que afeta a União Europeia, em especial. Com a eventual alta do consumo e a desindustrialização que toma conta do País, a volta da inflação tem espaço garantido no cenário econômico brasileiro. Eis o resultado da soberba do ex-metalúrgico Luiz Inácio da Silva, que vendeu ao mundo uma bolha de virtuosismo que começa a estourar. Como ele próprio disse certe feita, “nunca antes na história deste país”.