Esquerda latino-americana deveria torcer pela vitória do direitista francês Nicolas Sarkozy

Questão de lógica – O mais novo reduto do esquerdismo mundial atende pelo nome de América Latina. Nessa porção do continente descoberto por Cristóvão Colombo deveriam estar os chefes de Estado que mais torcem pela vitória do direitista Nicolas Sarkozy na eleição presidencial francesa, cujo primeiro turno acontece neste domingo (22). Pode parecer um absurdo em termos de ideologia política, mas essa é a realidade. Até mesmo alguns socialistas menos festeiros admitem isso.

Sem reconhecer oficial e deliberadamente os efeitos colaterais da crise econômica que abala a zona do euro, os governantes esquerdistas da América do Sul precisam deixar de lado a cartilha ideológica e torcer com afinco pela vitória de Sarkozy, que tem como principal adversário o socialista François Hollande, que seguirá para o segundo turno da eleição presidencial francesa (6 de maio) com chance concreta de vitória.

Ao ucho.info não cabe a tarefa de defender um ou outro candidato, mas apenas de analisar a conjuntura econômica mundial e suas consequências diante da eventual vitória de Hollande, que durante a campanha fez promessas conceitualmente possíveis, mas inviáveis no campo da prática. Falar em crescimento da economia e geração de empregos em um país que divide com a Alemanha a liderança de um bloco econômico que luta para não sucumbir é no mínimo ufanismo. E como qualquer ufanista, François Hollande tem faltado com a verdade. Do contrário, o candidato socialista terá de mandar pelos ares a União Europeia, o que provocaria uma catástrofe planetária.

Em um mundo globalizado, crescimento econômico, como anuncia Hollande, exige o endurecimento das regras protecionistas e expansionismo monetário ainda maior do que o atual, algo que a presidente Dilma Rousseff vem criticando em demasia e aos quatro cantos. Em crise econômica não há varinha de condão que resolva o problema. É preciso paciência e competência nesse jogo de xadrez, que pode acabar de forma trágica se uma peça for movimentada de forma errada. É o tal do xeque-mate.

Por outro lado, a situação econômica da França pode piorar ainda mais se Hollande flexibilizar as fronteiras do país. Diante de câmeras e microfones, François Hollande concorda com leis mais rígidas de imigração, mas nos bastidores a situação é diferente, pois os socialistas pensam o contrário. Ao tornar a imigração mais fácil, o candidato socialista, em caso de vitória, obrigaria o Estado francês a despesas com quem não contribui com os cofres oficiais. Seria cometer a insanidade contábil de aumentar a despesa sem aumentar a receita na mesma proporção. Com passado colonialista, a França é obrigada a colher os que partem das antigas colônias em direção à terra de Victor Hugo.

É sacra a prerrogativa dos cidadãos de ir e vir, tão bem acolhida na Declaração Universal dos Direitos Humanos, mas é preciso concordar com regras mais rígidas de imigração quando se tem uma economia forte atraindo pessoas vindas de países subdesenvolvidos ou com problemas políticos e econômicos. Entre o discurso fácil dos populistas e a conta que chega ao caixa dos países desenvolvidos há uma considerável distância. E nessas horas é preciso apelar à coerência, deixando de lado as análises pontuais e obtusas.

Uma guinada política na França, no momento, colocaria a perder o esforço da União Europeia para tirar a economia do bloco do fio da navalha. O que não significa que a zona do euro tenha se distanciado da guilhotina. Para confirmar a tese de que o socialismo populista produz contas impagáveis não é preciso ir muito longe. A Argentina da peronista Cristina de Kirchner vive momentos de agrura econômica. A Venezuela do tiranete Hugo Chávez está mergulhada em assustadora onda inflacionária. O Paraguai do ex-padre Fernando Lugo permanece quase inexpressivo. O Uruguai do guerrilheiro tupamaro José Alberto Mujica Cordano, também conhecido como Pepe Mujica, continua andando de lado. O Brasil de Dilma Vana Rousseff digere, a duras penas e muito dinheiro público, as lufadas de populismo fanfarrão sopradas pelo messiânico Lula.

O exibicionismo recorrente de Nicolas Sarkozy é condenável e não agrada ao povo francês, conhecidamente mais reservado, mas a permanência do marido de Carla Bruni no Palácio do Eliseu pode ser a momentânea tábua de salvação do planeta. Não que as ideias de Sarkozy sejam preciosas, mas sem encaixam com mais facilidade na atual e difícil realidade da União Europeia. Do contrário, o socialista François Hollande colocará em maus lençóis os companheiros latino-americanos.

Resumindo, por questões de sobrevivência a esquerda da América Latina deveria torcer por Sarkozy. Não sendo assim, Hollande acabará reforçando aquele velho dito popular, de que nada é mais direitista do que um representante da esquerda no poder.