Sob o manto da crise europeia, Sarkozy e Hollande disputam o direito de comandar a França

Pólos opostos – Os eleitores franceses surpreenderam neste domingo (22) e, até o momento, compareceram às urnas em número maior do que o esperado, o que pode mudar as previsões dos institutos de pesquisa sobre a eleição presidencial, cujo segundo turno acontece no próximo dia 6 de maio.

Sofrendo as consequências do seu conhecido exibicionismo e os problemas econômicos que afetam a União Europeia. O que tem obrigado a França a se desdobrar ao lado da Alemanha, Nicolas Sarkozy terá muito trabalho nos próximos quinze dias caso queira continuar como inquilino do belo Palácio do Eliseu, sede do Executivo francês.

Na outra ponta está o socialista François Hollande (à esquerda na foto), que só surgiu em cena depois que Dominique Strauss-Kahn, ex-diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional, se envolveu em um escândalo com uma camareira de hotel de Nova York. Strauss-Kahn era o candidato natural do Partido Socialista francês. Como todo socialista, Hollande tem um discurso fácil e focado em promessas que a atual conjuntura econômica do continente europeu não permite transformá-las em realidade.

Tirante o comportamento típico de celebridade, Sarkozy é um dos responsáveis pelo fato de a Europa ainda não ter ido pelos ares. E esse mérito o presidente francês divide com a chanceler alemã Angela Merkel.

Se prevalecer o voto de protesto, a França em breve terá saudade do conservadorismo de Sarkozy, necessário em momentos de crise econômica. Já Hollande, se vencer a eleição, poderá em breve cair no descrédito por não conseguir transformar as promessas de campanha em realidade. O candidato socialista tem prometido a retomada da economia francesa, geração de empregos e regras mais flexíveis para os imigrantes. Por mais revolucionário que sejam suas ideias, François Hollande terá de se submeter à realidade econômica regional, que está longe de ser um ponto a favor para quem sonha com mudanças radicais.

Por ocasião da assinatura do Tratado de Masstricht, em fevereiro de 1992, os signatários tinham conhecimento da complexidade da proposta e das consequências de um projeto que unificou econômica e politicamente a Europa, além de criar parâmetros flexíveis para o livre movimento de produtos, pessoas, serviços e capitais.

No âmbito teórico a proposta é espetacular, mas na prática é um problema descomunal e de longo prazo, pois o tratado que deu origem à União Europeia acabou não apenas unindo o sonho de uma sociedade ideal em termos políticos e econômicos, mas aglutinou um punhado de problemas distintos e culturas diversas. E duas décadas é muito pouco tempo para se avaliar um projeto de tamanha envergadura e ousadia. Quem tentar mudar o rumo dos fatos com promessas destoantes entrará para a História pela porta dos fundos.