Impasse total – Quando foi declarada vencedora da eleição presidencial de 2010, Dilma Vana Rousseff disse que a formação da equipe ministerial e de outros escalões do governo teria critérios técnicos e de competência. Balela conhecida, pois Dilma foi eleita a partir de uma coalizão partidária. Ou seja, a máquina federal transformou-se em um condomínio para atender as promessas que viabilizaram a candidatura da neopetista.
Ao assumir a presidência, Dilma garantiu, em seu discurso no Congresso Nacional, que seria intransigente com casos de corrupção e transgressões. Uma sonora inverdade, pois o primeiro ano do seu governo foi marcado por uma impressionante sequência de escândalos de corrupção. A cada novo caso dizia-se que se tratava de entulho da era Lula, mas o ex-metalúrgico continua mandando no governo como nunca.
Sem cumprir as promessas e ainda se ter mostrado a que veio, Dilma decidiu eleger um vilão para salvar a sua imagem junto à opinião pública. E a bola da vez é o juro cobrado pelos bancos privados, pois os oficiais reduziram as taxas depois de um pito oficial. Engana-se a presidente ao pensar que a redução das taxas de juro se dará com qualquer gritaria. Entre a Selic, determinada pelo Copom, e o juro cobrado do consumidor final há um vasto e complexo terreno, que interfere no cálculo final. É verdade que os bancos jamais lucraram como nos últimos dez anos, mas isso se deve à farra permitida pelo ex-presidente Lula, que precisou do dinheiro dos banqueiros para vencer a eleição de 2002.
Dilma quer a imediata redução das taxas de juro por parte das instituições financeiras privadas, mas não quer abrir mão da carga tributária que incide sobre as operações do setor. De igual modo, o Palácio do Planalto insiste na tese de não fazer o que lhe compete, como corte de gastos, enxugamento drástico da máquina federal e ajuste fiscal. Como o governo é o maior tomador de dinheiro no mercado, não há como reverter o quadro na gritaria.
Para que algo aconteça nessa seara, Dilma terá de ceder, pois o volume de crédito pode diminuir se a pressão for excessiva. É importante lembrar que o cenário econômico brasileiro só é bom na teoria, pois na prática a situação é preocupante. E pelo que se sabe nenhum banqueiro é adepto de teorias.
Como noticiado recentemente pelo ucho.info, Dilma será obrigada a mudar as regras de remuneração da poupança, caso queira colocar o Brasil na rota dos países com taxas de juro aceitáveis. Acontece que a caderneta de poupança é a alavanca de financiamento da construção civil, setor que tem gerado muitas vagas de trabalho e movimentado o mercado.
Se por um lado há razões técnicas que comprometem uma eventual alteração nas regras da poupança, por outro há motivos políticos que impedem tal mudança. O fato de 2012 ser um ano eleitoral deixa de ser um atrativo para qualquer incursão no tema. Se essas alterações não forem feitas em breve, dificilmente acontecerão mais adiante, pois 2014 também será ano de eleição. E não há candidato com coragem suficiente para mexer na fonte de remuneração das economias da maioria da população brasileira. É aquele velho dito popular que diz “se ficar o bicho come, se correr o bicho pega”.
Sem nenhuma bandeira política convincente, Dilma Rousseff voltará à carga contra os bancos privados. E a próxima carraspana, populista, diga-se de passagem, não demorará muito, pois esse tipo de discurso agrada às massas, presas fáceis do consumo irresponsável e financiado. Os banqueiros, que podem ganhar menos, devem estar atentos, pois banco é concessão pública e a América Latina mergulhou em uma onda de expropriações. Sendo assim, senhora presidente, como disse o imperador Júlio César diante do Rio Rubicão, “alea jacta est” (a sorte está lançada).