Amedrontado com o caso Cachoeira, dono da Delta reclama por ter sido abandonado por Cabral

Enxadrismo do escândalo – Antes de decidir contratar o criminalista José Carlos de Oliveira Lima para defendê-lo na CPI do Cachoeira, o que não foi por acaso, o empresário Fernando Cavendish, dono da meteórica Delta Construções, deu um rasante pelos principais escritórios de advocacia do eixo Rio-São Paulo. E, alguns dos encontros, Cavendish teria dito aos consultados estar se sentindo abandonado, não sem antes externar o grau de desespero em que se encontra.

A um dos advogados que procurou, Fernando Cavendish reclamou da atitude do governador Sérgio Cabral Filho (PMDB), do Rio de Janeiro, que deixou de procurá-lo e inclusive de atender suas chamadas telefônicas. Cabral Filho, que está no olho de um revoltoso furacão, apesar de suas negativas, sabe que está sendo monitorado física e telefonicamente. E esse afastamento alvo de reclamação é a estratégia mais adequada para quem está na alça de mira de adversários e também da opinião pública.

Cabral tem declarado estar tranquilo em relação aos grampos telefônicos que recheiam o inquérito que deu origem à Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, pois não houve qualquer conversa transgressora entre ele [Cabral] e Cavendish. O governador fluminense alega que o dono da Delta é seu amigo e que isso não teve qualquer interferência nos contratos da empresa com o governo estadual, mas essa relação é no mínimo amoral.

Esse discurso moralista de ocasião de Sérgio Cabral se explica diante da iminência de alguns governadores serem convocados para depor na CPI do Cachoeira, o que teria um efeito devastador no currículo do atual inquilino do Palácio Guanabara.

Abandonar Fernando Cavendish é a decisão menos acertada, pois, por mais que o empresário seja adepto de coisas elegantes e nababescas, no momento do aperto ele pode acabar falando mais do que muitos esperam. Cavendish, se bem inquirido pelos integrantes da CPI, deve causar um estrago considerável. É por isso que o advogado que defende José Dirceu no caso do Mensalão do PT assumiu a defesa de Cavendish e da Delta.

Cavendish não tem a frieza de Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, que segundo as investigações comanda uma organização criminosa. Cachoeira, ao contrário, vem mandando recados pontuais aos que frequentam ou frequentaram a sua teia de relacionamentos. De igual modo não causou surpresa e muito menos é coincidência o fato de seu advogado ser o criminalista Márcio Thomaz Bastos, ex-ministro da Justiça no primeiro governo de Lula da Silva.

Como na política nada acontece por acaso, a decisão Demóstenes Torres ter confiado sua defesa ao advogado Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, é caso pensado. Revelado ao mundo jurídico ainda na era Sarney, Kakay, como é conhecido nos meios jurídicos da capital dos brasileiros, se aproximou da cúpula do PT durante os oitos anos da estada de Lula no Planalto. De tal modo, Kakay, cuja competência é reconhecida com largueza, pode ter sido escolhido por Demóstenes como fator de reverberação de tudo o que o senador goiano sabe. Como afirmou o ucho.info em matéria publicada na edição de quinta-feira (3), Demóstenes não cairá sozinho.