Bico fechado – A medicina avançou nas últimas décadas, é verdade, com o direito de incorporar seguidamente novas tecnologias na batalha contra doenças, mas a natureza humana não tem como ser ignorada. A situação fica ainda mais crítica quando o paciente é um político que, a bordo de um projeto insano de poder, tenta desrespeitar o ritmo da própria vida.
Esse introdutório serve como luva de pelica para Luiz Inácio da Silva, que vem desafiando a sua capacidade de recuperação. Depois de longo e penoso tratamento contra um câncer na laringe, que exigiu sessões de quimioterapia e radioterapia, Lula mergulhou em intensa agenda, inclusive com viagens pelo Brasil.
Ao discursar, semanas atrás, durante a inauguração de escola pública em São Bernardo do Campo, no ABC paulista, o ex-presidente exibiu a fragilidade da sua saúde. Uma tosse repentina e contínua obrigou Lula a abreviar o discurso. Tempos depois, em Brasília, o petista mostrou-se bem disposto durante o lançamento do filme “Pela Primeira Vez”, de Ricardo Stuckert.
Na quinta-feira (3), no evento em comemoração aos 60 anos do BNDES, no Rio de Janeiro, Lula chegou usando uma bengala e amparado pelo presidente do órgão, Luciano Coutinho. Visivelmente pálido, o eloquente orador das portas de fábrica precisou ler um discurso previamente preparado. Nesta sexta-feira (4), o ex-metalúrgico participa de cerimônia no Rio de Janeiro em que receberá mais um título de doutor honoris causa. E os médicos do Hospital Sírio-Libanês, que continuam monitorando a saúde de Lula, recomendaram que ele “fale o menos possível”.
Imaginar que Lula da Silva está completamente curado é querer rasgar os ensinamentos da Medicina. Essa afirmação só poderá ser feita dentro de cinco anos, período em que recidivas podem acontecer. Animal político no bom sentido, Lula deveria deixar de lado os compromissos partidários e se candidatar à vida, pois essa é a melhor eleição para se vencer.