Papo furado – A vitória do socialista François Hollande (51,7% dos votos), no segundo turno da eleição presidencial francesa, sobre o conservador Nicolas Sarkozy (48,3%) surpreendeu alguns analistas, mas trata-se de exagero interpretativo. A derrota de Sarkozy, na verdade, segue uma tendência que marca a União Europeia, cada vez mais dominada pela crise econômica. Até agora, desde o começo da crise, onze chefes de Estado ou de governo caíram ou foram derrotados em eleições no Velho Mundo.
Não se trata de uma onda de esquerdismo ou de direitismo, pois onde havia um representante da direita acabou surgindo um da esquerda e vice-versa. O que os europeus buscam de fato é uma mudança política que consiga solucionar a crise que afeta a extensa maioria das nações do bloco. Em outras palavras, busca-se uma mágica impossível de ser realizada, pois a crise que atormenta a zona do euro só será solucionada com ações e decisões coletivas e convergentes. Do contrário, a tendência é que a União Europeia mergulhe em uma crise ainda maior e irreversível, forçando a dissolução do bloco econômico criado a partir do Tratado de Maastricht, em 7 de fevereiro de 1992.
Para conquistar o direito de se instalar no Palácio do Eliseu, sede do Executivo francês, o socialista Hollande prometeu o que não será simples de cumprir, quiçá não seja impossível. O discurso do vitorioso candidato da esquerda foi focado no crescimento econômico, mas entre a promessa e a realidade há uma considerável distância, repleta de dificuldades. A Hollande restará o arrocho fiscal como saída para cumprir minimamente o que foi prometido aos eleitores que lhe deram a vitória. Arrocho fiscal, em sua tradução mais simplista, significa aumentar as receitas e reduzir os gastos. Contudo, as medidas anunciadas por Hollande durante a campanha levam a crer que será preciso gastar ainda mais.
Quando um governante fala em crescimento econômico, como foi o caso de François Hollande, entende-se que empregos serão criados e o consumo interno será incentivado. Acontece que o cenário econômico da região não favorece esse tipo de ação, pelo contrário. A saída, então, seria acreditar no aumento das exportações, mas o resto do mundo, já sentido os reflexos da crise que singrou as águas do Atlântico, não está tão receptivo a esse tipo de iniciativa. A alternativa seria adotar uma política monetária expansionista, o que vem sendo criticado com veemência em vários pontos do planeta.
Qualquer medida fora do escopo lógico, como o arrocho fiscal, exigirá de François Hollande excesso de liderança, o que não é o caso, pois ele continua sendo um desconhecido que foi incensado nas urnas por causa das incertezas que dominam a economia europeia. Longe de ser um líder convincente, mas que se notabilizou por seu viés histriônico, tanto na vida pessoal quanto na atuação política, Sarkozy adotou um discurso voltado para o corte drástico das despesas, começando pelo controle mais rígido das fronteiras do país. Resumindo, o eleitorado francês trocou seis por meia dúzia, que dependo do que for feito pode se transformar rapidamente em oito.