Justiça de SP retoma o julgamento do caso Celso Daniel, cujas gravações sinalizam crime político

Banco dos réus – Nesta quinta-feira (10), a Justiça de São Paulo retoma o julgamento do caso Celso Daniel, ex-prefeito de Santo André sequestrado e morto de maneira cruel e bárbara. No júri, o Ministério Público defenderá a tese de crime político, o que contraria o discurso adotado pelo PT desde os primeiros momentos após o crime. Contudo, trata-se de uma verdade de bastidor que os petistas preferem não ver confirmada publicamente.

Na opinião do promotor Márcio Augusto Friggi de Carvalho, o então prefeito sabia da existência (participava também) de um esquema ilegal de arrecadação de dinheiro junto a empresários de Santo André, que inicialmente serviria para financiar campanhas do partido, em especial a de Lula à presidência, em 2002. Tirar Celso Daniel de cena foi a saída encontrada por alguns dos seus companheiros políticos, após descobrir o desvio de dinheiro para o enriquecimento de alguns dos integrantes da legenda. Parte do dinheiro desviado acabou usado na compra de luxuosas casas de veraneio em disputadas cidades da Grande São Paulo.

Não fosse um crime político, Celso Daniel não teria sido torturado antes de ser assassinado por seus algozes. Primeiro veículo de comunicação do País a divulgar as gravações telefônicas do caso, o que rendeu ameaças ao editor, o ucho.info teve acesso a informações que apontavam o uso de práticas medievais de tortura por parte dos criminosos. No julgamento, que acontecerá no fórum de Itapecerica da Serra, estarão os réus Itamar Messias dos Santos Filho; Ivan Rodrigues da Silva, conhecido como Monstro; Rodolfo Rodrigo dos Santos Oliveira, o Bozinho; José Edison da Silva e Elcyd Oliveira Brito, o John. Acusado de ser o mandante do crime, o empresário Sérgio Gomes da Silva, o Sombra, será julgado separadamente.

Depois de encontrado o corpo de Celso Daniel, em uma estrada vicinal do município de Juquitiba, cidade à margem da rodovia BR-116, petistas ilustres entraram em cena para tentar desqualificar o caso, que passou a ser tratado como crime comum. A frieza com que pessoas próximas a Celso Daniel conversavam ao telefone chega a impressionar. Um dos interlocutores flagrados pelas escutas policiais é Gilberto Carvalho, homem de confiança de Lula e atual secretário-geral da Presidência da República.

Após o sórdido crime, contas bancárias no exterior, que recebiam parte do dinheiro da propina de Santo André, foram movimentadas, o que causou estranheza às autoridades que investigavam o crime. Durante meses a fio enfrentando a desfaçatez de alguns integrantes do PT, familiares de Celso Daniel foram obrigados a sair do País, refugiando-se na Europa. Depois de longo período no exílio, o cientista político Bruno Daniel retornou ao Brasil.

Em 12 de outubro de 2005, o legista do caso, Carlos Delmonte Printes, foi encontrado morto em sua casa, na Zona Sul da capital paulista. No mesmo dia, horas antes, o editor do ucho.info, responsável pela divulgação das gravações do caso Celso Daniel, foi chamado por um destacado integrante da Justiça para ser informado sobre uma tentativa de intimidação e de um plano para assassiná-lo. O tal servidor do Judiciário, cujo nome será mantido em sigilo por questões de segurança, recebeu em seu gabinete um cidadão de nome Donizete, que disse que uma pessoa ligada ao caso é acostumada “a cortar o mal pela raiz”. A afirmação foi uma referência ao desejo desse poderoso (sic), à época com importante cargo na República, de eliminar o editor. De acordo com o servidor da Justiça, um desembargador, autoridades federais de segurança foram acionadas tão logo o capataz Donizete deixou o recinto. Na sequência, alguns familiares do editor (mãe e filhos) foram alvo de ameaças.

Antes disso, em fevereiro de 2003, o garçom Antonio Palácio de Oliveira, que na noite do sequestro de Celso Daniel serviu a mesa em que estavam o ex-prefeito e Sérgio Gomes da Silva, o “Sombra”, foi assassinado. Quando morreu, Oliveira portava documentos falsos e tinha recebido um depósito de R$ 60 mil em sua conta bancária. A única testemunha da morte do garçom, Paulo Henrique Brito, morreu três semanas depois com um tiro nas costas.

Em dezembro de 2003, morreu, com dois tiros nas costas, o agente funerário Ivan Moraes Rédua, a primeira pessoa a reconhecer o corpo de Celso Daniel em uma estrada de terra no município de Juquitiba, na região metropolitana de São Paulo.

Confira abaixo os principais trechos das gravações telefônicas do caso Celso Daniel, divulgadas à época com exclusividade pelo ucho.info. Em uma delas, o atual ministro Gilberto Carvalho, da Secretaria-Geral da Presidência da República, e Ivone Santana tratam a morte de Celso Daniel com frieza.

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