Enterro de traficante transforma-se em evento com desafiados e mostra falência do Estado

Acima da lei – Os Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro, em 2007, ainda não haviam começado quando Luiz Inácio da Silva, então presidente da República, disse que a capital fluminense teria o melhor e mais eficiente sistema de segurança pública do País após o encerramento do evento esportivo. Tais palavras, nada verdadeiras, tentaram endossar uma declaração do governador Sérgio Cabral Filho (PMDB), que ao tomar posse no Palácio Guanabara, em janeiro de 2006, disse que estava decretado o fim do crime organizado. Outra ode à mitomania.

Para provar que Lula e Cabral Filho faltaram com a verdade, como sempre, o sepultamento do traficante Márcio José Sabino Pereira, o Matemático, foi acompanhado por cerca de trezentas pessoas, que foram ao cemitério em seis ônibus e dez vans. No Cemitério Jardim da Saudade, em Paciência, coroas de flores enviadas à família do traficante mostravam o poderio do crime organizado. Em uma delas, com os nomes dos comparsas “Facão” e “Coronel”, a mensagem “O certo prevalece. Quem traiu vai pagar” antecipa o desdobramento da queda de braços entre o tráfico de drogas e a polícia, que usou um informante para chegar a Matemático. Em outra coroa de flores estava grafada a mensagem desafiadora “Um herói nunca morre”.

Essa ousadia do crime organizado no sepultamento do traficante é a prova maior e inconteste da falência e inoperância do Estado, que permitiu o avanço da ilegalidade nas comunidades carentes, que passaram a depender do chamado Estado paralelo.

Enquanto o policiamento nas fronteiras do País não for reforçado, os traficantes continuarão agindo impunemente, por mais que exista incremento nas operações policiais urbanas. Essas incursões pontuais servem para aumentar o preço da droga ao usuário, que por conta do vício se sujeita a pagar qualquer preço. Por outro lado não se deve descartar que a corrupção advinda do tráfico é piramidal, ascendente e capilar. Em outras palavras, várias instâncias do poder são alcançadas pela propina paga pelos traficantes.