Quebra-cabeças – A crise econômica internacional causava estragos somente na zona do euro quando o ministro Guido Mantega, da Fazenda, disse que o Brasil estava imune a qualquer movimento vindo do Velho Continente. Na sequência foi a vez da presidente Dilma Rousseff repetir a cantilena, mas meses depois foi obrigada a apelar para o consumo interno como forma de minimizar os efeitos colaterais da crise europeia.
Foi essa estratégia mirabolante, utilizada por Lula em 2008 e que provocou estragos, que levou o Palácio do Planalto a pressionar os bancos privados para que as taxas de juro ao consumidor fossem reduzidas. Acontece que nem tudo está saindo como os palacianos planejaram.
Quem compra algo a prazo, como quer o governo, o faz porque tem pelo menos intenções de pagar. No vencimento só paga quem tem dinheiro, ao passo que deixa de pagar quem não dispõe do vil metal. Historicamente o dinheiro é fruto do trabalho. E sem trabalho não há dinheiro. Uma sequência tão óbvia e simples, mas não é isso que mostram algumas pesquisas recentes.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE), as vendas do comércio varejista brasileiro cresceram 0,2% em março deste ano, em relação ao mês anterior. A receita nominal também registrou crescimento, de 0,3%. Divulgada nesta quinta-feira (17), a pesquisa do IBGE mostra também que, em comparação com março de 2011, o crescimento das vendas do comércio varejista chegou a 12,5%. No acumulado do ano a alta é de 10,3%. Nos últimos doze meses, o crescimento foi 7,5%. Resumindo, o governo tem o que comemorar parcial e temprariamente, mesmo que isso reforce a resistência da inflação.
Por outro lado, o Ministério do Trabalho divulgou, também nesta quinta, dados sobre a geração de empregos no País. De acordo com dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), nos quatro primeiros meses do ano a criação de empregos formais registrou queda de 20,2%, em comparação ao mesmo período de 2011. Segundo o Ministério do Trabalho, de janeiro a abril de 2012 foram criados 702.059 empregos formais, contra 880.717 vagas formais geradas no primeiro quadrimestre do ano anterior.
Trata-se, segundo o próprio governo, do pior desempenho para os quatro primeiros meses de um ano desde 2009, quando foram abertas 48.454 vagas de empregos com carteira assinada. À época, o País enfrentava os efeitos o primeiro capítulo da crise financeira advinda do “subprime” norte-americano, iniciada em setembro de 2008 com a concordata do banco Lehman Brothers.
Ao cruzar os dados de ambas as pesquisas até mesmo um leigo percebe facilmente que algo de errado há na economia verde-loura. O governo aposta no consumo interno, o endividamento das famílias está em alta, a inadimplência disparou, o consumo cresce e a geração de empregos decresce. Cenário que não se sustenta durante muito tempo, pois as peças apresentam problemas de encaixe.
Na quarta-feira (16), a presidente Dilma Rousseff se emocionou ao instalar a Comissão Nacional da Verdade e dizer que a sombra e a mentira não promovem a concórdia. Belas palavras, comoventes até, mas um dia depois das lágrimas da presidente o brasileiro descobre que o governo mente. Criemos, pois, uma Comissão da Verdade Econômica, porque a bolha de virtuosismo que Lula vendeu ao mundo começa a estourar.