Prova dos nove – Presidente nacional do PPS, o deputado federal Roberto Freire (SP) disse, nesta quarta-feira (23), que o pacote econômico do governo federal de incentivo ao crédito e ao consumo carece não só de ousadia, “mas também de competência e de imaginação”. Para Freire, isso fica demonstrado na insistência em políticas de incentivo ao consumo exacerbado, que já trouxeram um recorde de inadimplência, e “na fixação de um cacoete lulodilmista, de conceder benefícios quase que unicamente à industria automotiva”.
O consumo é importante quando corresponde a um crescimento real dos investimentos e da produção. Quando é criado quase artificialmente, com uma enxurrada de crédito de qualquer forma, com todas as facilidades e com incentivo desbragado para consumir é, evidentemente, arriscado, porque pode provocar bolhas econômicas. “Não devemos esquecer, mesmo guardando as proporções das respectivas economias, do que aconteceu nos Estados Unidos com a bolha do subprime habitacional, causa direta da grande crise que enfrentou o sistema capitalista mundialmente”, afirmou.
O discurso providencial do deputado Roberto Freire é o espelho da tese defendida pelo ucho.info desde a onda de consumismo deflagrada pelo então presidente Luiz Inácio da Silva, por ocasião da crise internacional de 2008.
Consumo e inadimplência
O deputado fez essa crítica durante a reunião que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, participou no Senado. “O pacote tem um erro de concepção, pois tenta retomar níveis de consumo que, em alguns aspectos e no momento, mostram certa saturação no mercado. E mais, com o agravante de que o endividamento das famílias, principalmente as de mais baixa renda, está muito alto e começa a ser cobrado, vide o claro e exponencial crescimento da inadimplência”.
Freire lembra que a população se endividou muito desde 2010, quando Lula já optou por esse caminho para tentar enfrentar, de forma “ligeira”, a crise que ele dizia ser uma “marolinha”. O então presidente incentivou um consumismo exagerado, na avaliação de Freire, ao mesmo tempo em que buscava a eleição de Dilma Rousseff. “Acabou deixando esse fardo que agora a presidente tem de carregar. A crise está ai e com forte impacto na economia”.
Automóveis na mira
Segundo Roberto Freire, quando trata do problema da desindustrialização, “o governo só enxerga a indústria automotiva”. Ele ironizou: “Vai ver é cacoete de que Lula era trabalhador que surgiu nos sindicatos da região do ABC, fundamentalmente vinculado às montadoras. Tudo é feito com foco nesse setor”.
Para o presidente do PPS, pouco importa ao governo se o Ministério da Ciência e Tecnologia tem cortes, porque não há real incentivo para as inovações tecnológicas, “que podem ter um impacto muito maior para processos de desenvolvimento do que o incentivo a venda de eletrodomésticos da linha branca e de automóveis”.
Investimento
A opção correta é o investimento, defendeu Freire. “O Brasil está com um nível baixíssimo de investimentos públicos”, afirmou. “Isso é que teria de ser buscado: incentivo à poupança e aumento dos investimentos, por exemplo, na ampliação e modernização da nossa infraestrutura”.
Freire acha que a infraestrutura, “que está em pandarecos no Brasil”, deve ser priorizada. Na avaliação dele, essa alternativa poderia ser uma grande oportunidade para o Brasil enfrentar a crise e, ao mesmo tempo, vislumbrar a perspectiva de uma economia que possa se desenvolver com sustentabilidade em boas estradas, portos, aeroportos, ferrovias, transportes nas cidades e energia, dentre outros.