Marcha lenta – Diferentemente do que anunciam as autoridades do governo da presidente Dilma Rousseff, a economia brasileira deixa a desejar e dificilmente alcançará as metas anunciadas. De acordo com dados divulgados nesta sexta-feira (1) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no primeiro trimestre do ano o PIB apresentou crescimento de 0,2%, em relação ao quarto trimestre de 2011. O acanhado crescimento da economia anula o discurso do ministro da Fazenda, Guido Mantega, para quem o PIB encerrará o ano acima de 4%, enquanto os analistas do mercado apostam em índice abaixo de 3%.
Os setores de agropecuária e investimentos apresentaram queda e frearam a alta do Produto Interno Bruto (PIB), cenário que vai ao encontro das previsões de economistas. Na comparação do primeiro trimestre deste ano com o quarto trimestre de 2011, o PIB da agropecuária caiu 7,3%, maior queda desde o terceiro trimestre de 2005, quando o PIB do setor recuou 7,4% em comparação ao trimestre imediatamente anterior.
Na seara dos investimentos – representados pelo item Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) – a queda registrada é 1,8%, pior resultado desde o primeiro trimestre de 2009, quando o recuo foi de 12,8% em relação aos três meses anteriores. O melhor desempenho no período foi da indústria, com crescimento de 1,7%, seguida pelo setor de serviços, com alta de 0,6%. Na comparação com o PIB de outros países, como Alemanha e Estados Unidos, o crescimento da economia brasileira nos três primeiros meses do ano é vergonhoso.
Diante de números tão preocupantes faz-se necessário uma análise mais minuciosa e profunda, tendo como base a conjunção de vários fatores. Considerando que o desempenho da economia só não foi pior porque a indústria foi a tábua de salvação, o futuro que nos aguarda não é dos mais promissores, pois recentemente a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) revisou para baixo a previsão de crescimento do setor para este ano.
Em outro vértice da análise, o péssimo desempenho do setor agropecuário acende a luz vermelha. Com a alta do dólar, as commodities agrícolas brasileiras devem perder competitividade no mercado internacional, sem contar que a crise econômica internacional vem patrocinando a queda do consumo global, o que afeta sobremaneira o agronegócio brasileiro.
O fraco desempenho da economia se deve também ao fato de o brasileiro ter reduzido o consumo por causa do elevado grau de endividamento, o que deve comprometer ainda mais o avanço da economia em 2012.
De acordo com o professor Rogério Mori, da Escola de Economia da FGV-SP, o cenário não é dos mais animadores. “As perspectivas são de que o crescimento brasileiro deve se situar entre 2,5% e 3% neste ano. Esse baixo crescimento reflete um consumo doméstico relativamente estagnado. Isso decorre do fato de que as famílias brasileiras já se encontram relativamente bem endividadas”, alerta Mori.
Ainda segundo o professor, as medidas econômicas do governo devem levar de dois a três trimestres para começarem a ser sentidas pela economia. Além disso, é preciso tomar outras decisões. “O movimento ideal do governo neste momento deveria ser no sentido de aumentar a renda disponível para os consumidores (e não estimular a ampliação do endividamento das famílias). Esse movimento poderia ocorrer através de uma redução de impostos, como o IR, por exemplo”.