Discurso de Demóstenes Torres em plenário vazio não deve ser considerado sinal de abandono

Esqueceram de mim – Em um plenário praticamente vazio, o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO), acusado de envolvimento com o contraventor Carlinhos Cachoeira, ocupou a tribuna do Senado Federal na segunda-eira (2) para pedir desculpas e perdão aos seus pares, mas aproveitou a oportunidade para negar muitos dos fatos que lhe são imputados. O senador goiano deve repetir esse ritual nos próximos dias, até a votação do seu processo, que no Conselho de Ética recebeu do relator a recomendação de perda de mandato.

O plenário vazio causou surpresa aos que não conhecem os bastidores do poder, mas quem acompanha o cotidiano político nacional fez outra leitura da cena aparentemente pífia. Além de ser segunda-feira, dia em que o comparecimento de parlamentares no Congresso é baixo, o discurso de Demóstenes serviu com parte de uma estratégia de defesa. Os jornalistas presentes reverberaram o fato, que chegou aos senadores ausentes por meio das respectivas assessorias e dos meios de comunicação da Casa.

O baixo quorum deve ser interpretado como uma decisão dos parlamentares de não se comprometerem com os eleitores, deixando-os livres na votação do processo a que Demóstenes Torres responde, que por ser secreta pode livrar o senador da cassação. Muitos dos que não acompanharam o discurso em plenário podem votar contra a cassação, algo que é esperado pela defesa do acusado e também por vários analistas políticos.

Pelo desdobramento do escândalo envolvendo Carlinhos Cachoeira, que a cada dia tem um novo e explosivo, a absolvição de Demóstenes Torres não deve ser descartada. Afinal, nesse imbróglio há muito mais envolvidos do que se imagina. E ninguém quer, mais adiante, experimentar do próprio veneno.