(*) Carlos Brickmann –
O caso Cachoeira, com CPI e tudo, ainda está no meio mas já tem o desenho final: só dança quem não puder pisar no pé de seus parceiros. O ainda senador Demóstenes Torres, por exemplo, não tem como ferir ninguém. Seus companheiros de Senado não querem nada com ele, nem mesmo ouvi-lo – até deixaram o plenário vazio durante seu discurso de defesa. Demóstenes tem tudo para virar ex-senador, condenado à solidão política. Nada é definitivo – até Collor conseguiu voltar – mas muita água deverá correr até que Demóstenes, que pensava até na Presidência da República, possa pensar na disputa de novas eleições.
Outros sofrerão algum tipo de constrangimento, embora menor. Marconi Perillo continua forte em Goiás, mas seus planos de crescer nacionalmente ficarão por muito mais tempo no arquivo. Fernando Cavendish dificilmente sofrerá sanções (ele sabe demais), mas virou uma espécie de suspeito de plantão: qualquer negócio que faça despertará a atenção dos adversários e da imprensa. A propósito, fica combinado que Cavendish será apontado como o único a distribuir dinheiro. Ele não só teria agido sozinho como por sua livre e espontânea vontade.
E o bicheiro, empresário, o amigo de todos Carlinhos Cachoeira? Sua esposa, Andressa, deu o recado: o marido, que se considera injustamente preso, está louco de vontade de contar alguma coisa. “Ele disse para mim que tem muito o que falar, que quer contribuir”, garantiu Andressa.
Traduzindo: ninguém mexe com Cachoeira. Se as coisas não melhorarem para ele, vão piorar para os outros.
E os outros?
Há na CPI quem queira convocar Luiz Antônio Pagot, ex-diretor-geral do DNIT, Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes, e Paulo “Preto” Vieira de Souza, ex-diretor de Engenharia da Dersa, estatal paulista de construção de estradas. Isso até pode acontecer, mas só depois de muitas conversas.
Algo do tipo decidem-se primeiro as respostas e depois se fazem as perguntas.
Jogadas futuras
Há muitos e muitos anos, o sábio governador mineiro Tancredo Neves explicou como o PMDB escolheria seu candidato à Presidência da República, para enfrentar Paulo Maluf: “Cada um de nós, eu, o Ulysses Guimarães e o Franco Montoro, articula sua própria candidatura. Quem estiver melhor na hora certa sai candidato com o apoio dos outros dois”.
O jogo agora é mais complicado, porque envolve mais partidos. Mas não se surpreenda se Eduardo Campos, PSB, for candidato à Presidência, com Gilberto Kassab, PSD, na vice. Ambos têm alianças diversas, mas jogam juntos. Podem até estar de lados opostos nas eleições presidenciais de 2014, mas a possibilidade futura de ação conjunta se mantém.
É vendaval
Há uma crise internacional, o Brasil tem baixa capacidade de investimento, a carga de impostos é alta. Mas sempre há voluntários para aumentar os gastos públicos. Para gastos extraordinários não faltam excelentes explicações, e uma delas é definitiva: não é quem faz a despesa que vai pagá-la. Quem paga é o caro leitor, sempre pronto a uma nova tosquia tributária. Os voluntários de agora:
1 – o Governo quer criar 225 cargos de Direção e Assessoramento Superior, mais 263 gratificações, para o Ministério da Defesa. Custo anual, R$ 19 milhões.
2 – O Superior Tribunal Militar prepara licitação, de R$ 60 milhões, para construir sua nova sede. “É até muito barato para um prédio que atenderá às necessidades da Justiça Militar como um todo. Não será nada faraônico”, explica o presidente do STM, almirante Álvaro Luiz Pinto. Pode até ser muito barato – afinal, dependendo da conta bancária de quem compra, um Rolls-Royce é caro ou barato.
Mas é necessário? Boa pergunta: o STM já tem sede e nela funciona. Com o novo prédio, os antigos ficarão vazios, mas não sem custo: tão logo saia o último caminhão de mudanças, entrarão em reforma. E reforma nunca é barata.
Os números
A economia aguenta mais gastos? Números do Banco Central: os investimentos privados subiram apenas 1% (o número anterior era de 4,7%). Números do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas: crescimento dos investimentos em 2012, zero. Ou seja, economia estagnada também em 2013.
Os personagens…
Divertida nota do Blog do Edson Lima, de Maringá:
“O senador e presidente do PMDB de Curitiba, Roberto Requião, tá na bronca com o seu ex-governador Orlando Pessuti, que deu apoio a Ratinho Junior (PSC) para prefeito de Curitiba. ‘Vou pedir a exclusão do PMDB do Sancho Pança de Jardim Alegre. Ou era a Penélope Obscura?’ – escreveu Requião em seu Twitter. Pessuti deu o troco: ‘Para o PMDB, o Sancho Pança de Jardim Alegre tem sido mais eficaz que a Maria Louca de Curitiba’. “Pois é. Que bonito. Sancho Pança e Maria Louca, como eles mesmos se tratam. E pensar que o Paraná estava nas mãos destes dois.”
…do partido
Orestes Quércia, também do PMDB, costumava completar o apelido Maria Louca: “Às vezes mais louca do que Maria, às vezes mais Maria do que louca”.