Mudou para ficar igual

(*) Carlos Brickmann –

Feliz com a cassação de mandato do senador Demóstenes Torres? Vejamos:

1 – Demóstenes já voltou ao Ministério Público de Goiás. Ganha R$ 24.200 mensais. Sua primeira providência foi tirar uma licença de cinco dias úteis.

2 – A corregedoria do MP goiano deve investigá-lo. O corregedor-geral, Aylton Vechi, no dia 26 de março, defendeu Demóstenes e se solidarizou com ele.

3 – Imaginemos que, por algum motivo, Demóstenes seja afastado do cargo. A punição será a aposentadoria com vencimentos integrais. Ganha sem trabalhar.

A vaga de Demóstenes no Senado já está ocupada por seu suplente, Wilder Pedro de Morais, DEM, empreiteiro em Goiás e secretário da Infraestrutura do Governo Marconi Perillo. Ele esqueceu de colocar em sua declaração de bens dois shopping centers, um em Goiânia, um em Anápolis. Uma conversa telefônica dele com o bicheiro Carlinhos Cachoeira foi gravada. O tema: Andressa Mendonça, que se separava de Wilder Morais para ficar com Cachoeira. Diz o bicheiro: “Eu não vou expor você, cara. Fui eu que te pus na suplência, nessa Secretaria, fui eu, você sabe muito bem isso. Então, para que eu vou te expor?”

Essa conversa gravada expõe não apenas Wilder Morais, mas também o governador goiano Marconi Perillo, do PSDB: o que Cachoeira diz é que nomeou, ou pelo menos indicou, com êxito, um secretário de Estado em seu Governo.

Pois bem: estes são os personagens. O senador cassado que já tem um excelente emprego e o novo senador, que precisou de Cachoeira até para ser traído.

Slogan

Investigar custou meses de gravações telefônicas. Preparar o caso exigiu votação na Comissão de Ética. Cassar o mandato, só depois da votação em plenário.

Ver um senador cassado por corrupção numa sessão presidida por Sarney, com a presença de Jader Barbalho, Renan Calheiros e Collor, não tem preço.

A farra do suplente

Nos Estados Unidos não existe suplente de senador. Aqui existe – e, como diz um sábio empresário, tudo que existe só no Brasil, exceto jabuticaba, é suspeito. O suplente, em geral, é aquele que paga a campanha do titular; e fica em condições de, sem um voto sequer, ocupar uma cadeira no Senado. Às vezes há um jogo combinado: tantos anos um, tantos anos outro. Às vezes a coisa simplesmente acontece.

Já houve casos em que um terço das vagas foi ocupado por suplentes. Hoje, dos 81 senadores, 16 são suplentes (já contando Wilder Morais) – um pouquinho menos de 20%. Um deles é um caso notável: o senador Edison Lobão Filho era suplente do pai, Edison Lobão, convocado para o Ministério de Dilma Rousseff. Três têm linhagem também notável: o suplente de Expedito Junior, cassado em 2007 pela Justiça Eleitoral, o de Demóstenes Torres, cassado por seus colegas, e o de Joaquim Roriz, que renunciou para não ser cassado.

Tudo bem; mas, se é para ter senadores que não se elegeram, para que há eleição?

Era bom…

Ah, os bons tempos que se foram! Quando, há um mês, ainda acreditava que o Produto Interno Bruto (PIB) iria crescer em 2012, a presidente Dilma Rousseff desafiava os críticos: “O PIB deste ano vai merecer uma medalha”. Agora, quando até o ministro Guido Mantega percebeu que a economia está parada, Dilma mudou o discurso: o PIB já não é um indicador adequado. “Uma grande nação deve ser medida por aquilo que faz para suas crianças e para seus adolescentes”.

Dilma erra ao fazer pouco do PIB e acerta na questão das crianças. Mas…

… não é mais

Um bebê japonês tem expectativa de vida seis anos superior à de um bebê brasileiro – isto em boa parte por nossos problemas de saneamento básico, que aumentam a mortalidade infantil. O Brasil está em 53º lugar, no mundo, em aprendizado de leitura. Temos universidades federais sem salas de aula, os professores universitários federais estão em greve há mais de dois meses por questões salariais. Dilma avisou que a destinação de 10% do PIB à educação será vetada.

O PIB, mesmo baixo, ainda é um indicador mais favorável para o Governo.

Brincando de assassinos

Nota publicada por Ilimar Ferreira, em O Globo: “Soldados do quartel do 1º Batalhão da Polícia do Exército, onde funcionava o DOI-Codi na ditadura militar, corriam ontem pela manhã na rua Barão de Mesquita, no Rio, cantando: ‘Bate, espanca , quebra os ossos. Bate até morrer.’ O instrutor então perguntava: ‘E a cabeça?’ Os soldados respondiam: ‘Arranca a cabeça e joga no mar.’ No final o instrutor perguntava: ‘E quem faz isso?’ E os soldados respondiam: ‘É o Esquadrão Caveira!’”

A Polícia do Exército está subordinada ao Ministério da Defesa. O ministro da Defesa é Celso Amorim. E seu silêncio é um brado retumbante.

Que pena, Demóstenes!

Frase do senador paranaense Álvaro Dias, PSDB, a respeito da cassação do mandato do senador Demóstenes Torres: “Eu queria trazer um revólver para dentro do plenário, porque, se ele fosse absolvido, aí eu daria um tiro no meu próprio ouvido”.

Como dizia o chanceler alemão Konrad Adenauer, o bom Deus, que limitou a inteligência humana, deveria ter limitado também a estupidez.