Audácia de ocasião – A repentina lufada de moralismo que sopra sobre o Partido dos Trabalhadores é o que se pode chamar de monumento à ousadia. Líder do PT na Câmara dos Deputados, Jilmar Tatto (SP) discorda da possível reconvocação de Marconi Perillo (PSDB), governador de Goiás, pela CPI do Cachoeira, criada para investigar a teia de relacionamentos do contraventor Carlos Augusto de Almeida Ramos.
De acordo com relatório da Polícia Federal, um “compromisso” foi selado entre Perillo e a Delta Construção, com a intermediação de Carlinhos Cachoeira, tão logo o tucano assumiu o governo de Goiás. O acerto, segundo a PF, teve como principal objetivo a liberação de dívidas milionárias da Delta com o governo goiano mediante suposto pagamento de propina ao governador.
Na opinião de Tatto, o governador goiano mentiu em seu depoimento à CPI e deve ser cassado por sua ligação com Carlinhos Cachoeira. Que Marconi Perillo deve ser investigado não restam dúvidas, mas não cabe ao deputado Jilmar Tatto dizer qual pena deve ser aplicada ao acusado. “Eu acho que não tem de convocar. Para quê? Para dar o showzinho dele? Bobagem. O que a CPI deveria fazer é representá-lo no Ministério Público para que esse possa representá-lo no Superior Tribunal de Justiça (STJ)”, disse o petista.
Essa falar do líder do PT é mais uma missa encomendada pelo ex-presidente Lula, que incentivou a criação da CPI para também liquidar com a carreira política de Marconi Perillo, seu conhecido desafeto desde o escândalo do mensalão.
O deputado petista defende que a Assembleia Legislativa de Goiás abra um processo de impeachment e que, caso isso não ocorra, cabe ao Superior Tribunal de Justiça afastar Perillo do cargo. “É uma temeridade para Goiás ele continuar governador”, declarou Jilmar Tatto.
Como destacado em matérias anteriores, ao ucho.info não cabe defender Marconi Perrilo, que deve ser investigado, processado e condenado em caso de comprovação de culpa, mas é importante cobrar do PT um olhar mais crítico na direção da própria história, pois a legenda é responsável pelo período mais corrupto da história política brasileira. Durante a era Lula, o PT protagonizou inúmeros escândalos, sem que os culpados tivessem sido incomodados. Ao ser eleita, Dilma Rousseff prometeu ser implacável com a corrupção, mas desde que chegou ao Palácio do Planalto tem convivido com imbróglios seguidos.
Para exemplificar, lembremos que o primeiro episódio de corrupção da era Lula foi protagonizado por ninguém menos que Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira, e envolveu Waldomiro Diniz, à época assessor do então ministro José Dirceu de Oliveira e Silva, chefe da Casa Civil e anos mais tarde acusado pela Procuradoria da República de ser o chefe dos mensaleiros.
Durante a CPI dos Correios, em 2005, o marqueteiro Duda Mendonça afirmou que recebeu parte dos honorários (R$ 10,5 milhões) referentes à campanha presidencial de 2002 em conta bancária no exterior, motivo suficiente para um pedido de impeachment do então presidente Lula, o que não aconteceu por incompetência da oposição e omissão da Justiça Eleitoral.
Outro caso estapafúrdio é o do Dossiê Cuiabá, conjunto de documentos apócrifos contra dois candidatos tucanos, Geraldo Alckmin e José Serra, em 2006. A Polícia Federal prendeu os envolvidos no esquema com R$ 1,7 milhão em dinheiro, valor que seria utilizado para pagar a falsa papelada que, segundo consta, beneficiaria Aloizio Mercadante, que à época concorria ao Palácio dos Bandeirantes, sede do Executivo paulista. Para escapar do problema e insinuar que fora enganado, Lula resolveu chamar esses criminosos de “aloprados”, mas desde então ninguém reclamou a propriedade do dinheiro, o que é estranho. O delegado da PF que comandou as investigações acabou afastado.
A soberba petista desaparecerá caso Luiz Antônio Pagot, ex-diretor do Dnit, e Fernando Cavendish, dono da Delta, já convocados pela CPI do Cachoeira, decidam revelar o que sabem. Se isso acontecer, mesmo que em parte, será suficiente para derrubar a República. Até porque, há provas ainda não divulgadas do esquema comandado por Cachoeira irrigando financeiramente algumas importantes campanhas petistas.