Após o derrame de carros novos patrocinado por Lula, Dilma lança com atraso o PAC da Mobilidade

Tudo errado – Ano de eleição é temporada de abuso de oportunidades por parte daqueles que estão no poder, que de uma forma ou outra buscam uma saída para ajudar os candidatos que se afinam em termos ideológicos ou dedicam apoio político em troca de algo. É o caso da presidente Dilma Vana Rousseff, que já avisou que aterrissará nos palanques de alguns companheiros e aliados que disputarão as próximas eleições.

Acuada diante da greve dos servidores federais e lutando contra o veneno destilado pelo próprio partido, Dilma lançou na quinta-feira (19), em solenidade no Palácio do Planalto, o PAC da Mobilidade para cidades médias. Em outras palavras, pirotecnia de sobra para um projeto que além de embusteiro chega com excesso de atraso.

O tal PAC da Mobilidade servirá para que os aliados da presidente da República tenham o que falar aos eleitores, que mais uma vez serão enganados de maneira torpe. Fernando Haddad, por exemplo, candidato do PT à prefeitura paulistana, já cumpriu tabela e, dias atrás, criticou o sistema viário da maior cidade brasileira e defendeu investimentos para a melhoria da mobilidade urbana. Resumindo, missa encomendada e ensaiada com a devida antecedência.

Tragédia anunciada

Quando, no final de 2008, o então presidente Luiz Inácio da Silva pediu aos brasileiros a manutenção em níveis elevados do consumo interno, como forma de o Brasil escapar da crise decorrente do “subprime” norte-americano, o ucho.info alertou para o perigo do discurso do petista, pois consequências graves surgiriam à frente. Da mesma maneira nos posicionamos por ocasião das benesses tributárias para incentivar a indústria automobilística, pois uma enxurrada de carros novos comprometeria o sistema viário das cidades brasileiras.

Lula, como bom falastrão, determinou à sua assessoria para que partisse contra os críticos, alegando que esses torciam contra o Brasil. Desculpa esfarrapada de incompetente que desconhece o que significa planejamento e raciocínio lógico. A estratégia de Lula, para entrar para a história, foi permitir aos cidadãos o acesso às compras, não importando as desastrosas consequências do consumismo.

Em relação aos automóveis, a redução de IPI patrocinou a sensível piora no trânsito das mais importantes cidades do País, a ponto de existirem mais carros do que espaço nas ruas. É o caso da capital paulista, onde o trânsito é evidente a qualquer hora. Há na cidade de São Paulo 7 milhões de veículos, sendo que desse total 5 milhões são automóveis, ou seja, carros de passeio. Considerado que cada 100 mil veículos representam, em média, 15 km de congestionamento, não é difícil concluir que na pior das hipóteses o as filas de carros nos horários de pico em São Paulo somam pelo menos 100 km.

Administrar um país não é encher a caneta com tinta e assinar o primeiro pedaço de papel que surge pela frente. É preciso não apenas responsabilidade, mas conhecimento de temas básicos, como planejamento. Muito antes de incentivar a indústria automobilística nacional, Lula deveria ter investido na melhoria da mobilidade urbana. Despejar carros nas ruas e avenidas das grandes cidades é o mesmo que colocar um volume maior de água em um encanamento projetado para quantidades menores do produto. Lula por certo não sabe – ele não sabe uma porção de coisas –, mas as análises e projeções sobre o trânsito se dão a partir da mecânica dos fluídos. E não queira, caro leitor, colocar mais água no cano do que a respectiva capacidade, pois algum estrago há de acontecer.

Na capital dos paulistas, que por sua complexidade exige um automóvel, estacionar é um despautério em termos de preços. Estacionamentos cobram até R$ 15 por uma hora, enquanto o serviço de valet, disponível em bares e restaurantes, não sai por menos de R$ 20. Sempre lembrando que na maioria das vezes o carro do cliente fica na rua. Se o objetivo era melhorar a qualidade de vida da população, Lula deveria ter reduzido os impostos que incidem sobre ônibus e facilitado o investimento privado em projetos de mobilidade urbana. Mas não, o ex-presidente precisava de uma ação que o perpetuasse na memória dos brasileiros, o que já acontece nos congestionamentos intermináveis e diante da pilha de carnês atrasados.

Lula continua acreditando que frequenta a árvore genealógica de Aladim e que é a derradeira solução do planeta, mas a realidade do cotidiano mostra exatamente o contrário. Dilma, que foi apresentada aos brasileiros como a garantia de continuidade, por sorte não está fazendo o que fez o seu mentor eleitoral. E deixa de fazer não porque desacredita no que foi feito com o seu endosso, mas porque não tem competência para tanto e muito menos vocação para sandices.