(*) Yuri Freitas, do Contas Abertas –
Apesar de Thiago Camilo (categoria até 90 kg) não ter conseguido medalha, das três conquistas olímpicas que o Brasil garantiu até o momento, duas são referentes ao Judô. Logo no início dos jogos Olímpicos de Londres, as medalhas conquistadas no Judô por Sarah Menezes e Felipe Kitadai causaram comoção no país ao colocar, curiosa e momentaneamente, o Brasil na posição número 1 do ranking de nações olímpicas, no primeiro dia de competições após a abertura oficial.
Em contraste às altas quantias que orbitam competições desse porte, a bolsa atleta categoria “Atleta Olímpico/Paraolímpico” concedida à Sarah Menezes, pela Caixa Econômica Federal, corresponde a R$ 3,1 mil por mês. O auxílio concedido a Felipe Kitadai, na categoria “Atleta Internacional”, é ainda menor: R$ 1.850 mensais. O judoca Thiago Camilo, que conquistou a prata em Sidney (2000) e bronze em Pequim (2008), também recebe R$ 3,1 mil por mês por meio do Bolsa Atleta.
Os três judocas também são integrantes das Forças Armadas brasileiras, assim como aproximadamente 20% dos esportistas que integram o grupo que disputa os Jogos (51, de 259 atletas), segundo Ministério da Defesa (MD). O cenário decorre da parceria entre o Comitê Olímpico Brasileiro (COB) e o MD, firmado em 2008, que acabou por gerar o “Programa de Incorporação de Atletas de Alto Rendimento nas Forças Armadas”.
Inicialmente, o programa foi criado em razão da 5a edição dos Jogos Mundiais Militares, realizados em 2011 na cidade do Rio de Janeiro. Contudo, o projeto deve se manter até os Jogos Olímpicos de 2016. Os militares que competem em Londres passaram por treinamento na Escola de Educação Física do Exército, na cidade do Rio. As patentes militares foram ganhas assim que os atletas foram incorporados.
Sarah Menezes integra a Marinha desde 2009, por conta de uma parceria com a Confederação Brasileira de Judô (CBJ) visando os jogos militares. O soldo de marinheira confere à judoca um acréscimo de R$ 1,4 mil por mês. Felipe Kitadai é soldado do Exército. Conforme dados da Instituição, sargentos técnicos temporários ganham cerca de R$ 2,5 mil mensais. Já Thiago Camilo é terceiro-sargento e recebe R$ 1.560,00.
Concomitantemente a essa natureza de ganhos, segundo a assessoria da CBJ os atletas ainda recebem recursos provenientes dos patrocinadores, de acordo com assessoria da Confederação. A assessoria informou ao Contas Abertas que os valores variam de acordo com o mês, calculados em cima dos resultados e posicionamento no ranking mundial.
Um dos principais patrocinadores do Judô brasileiro é a Infraero. Entre 2008 e 2011, houve investimentos de R$ 7 milhões por parte da empresa, segundo resposta obtida por meio da Lei de Acesso à Informação (12.527/11). Em 2012, o valor já se aproxima de R$ 1,8 milhão.
Conforme a resposta, “esses valores incluem patrocínio à delegação da equipe do Judô Brasileiro e manutenção dos Centros do Projeto Avança Judô/Infraero. A estatal destacou também que investiu, ainda, R$ 1,9 milhão entre 2005 e 2007, além de R$ 1 milhão no patrocínio à seleção de judô para cegos entre 2009 e 2011”.
No mesmo período, entre 2008 e 2011, a CBJ, federações e projetos esportivos estaduais ligados à modalidade obtiveram repasses da União de cerca de R$ 3,2 milhões, conforme dados obtidos no Sistema Integrado de Informação Financeira do Governo Federal (Siafi). Paralelamente, R$ 11,7 milhões foram destinados às atividades de judô por meio da Lei de Incentivo ao Esporte (11.438/06), entre 2009 e 2012, – como para a execução do Campeonato Brasileiro e a preparação da seleção de base, já visando a Olimpíada no Rio.
O modelo utilizado
Para o jornalista José Cruz, que cobre as áreas de política e economia do esporte há mais de 20 anos, o valor investido em atletas olímpicos tem se mostrado melhor do que a média. “Em princípio parece ser um bom dinheiro (…). R$ 2 bilhões no ciclo olímpico, a partir de 2009, é um valor que o esporte de rendimento nunca teve. É o dobro que o governo destinou para o time que foi aos Jogos de Pequim. Porém, isso é o suficiente para preparar a equipe? Não sabemos, porque a gestão das confederações é muito fechada, nada transparente nesse sentido”, disse.
Apesar das conquistas, Cruz afirmou que o esporte brasileiro precisa ser repensado como um todo. “Esse repensar seria para um projeto de longo prazo, em que o Estado cuidaria do esporte na escola, o que não temos e é fundamental. A escola não tem como objetivo formar atletas, mas é possível aproveitar o potencial ali reunido, oferecer atividade física como apoio à parte pedagógica e identificar entre os alunos talentos para esta ou aquela modalidade”, defendeu.