Corregedora do CNJ critica defesa do caixa 2 no julgamento do mensalão, mas prática é instituição nacional

Realidade diferente – Ministra do STJ e corregedora do Conselho Nacional de Justiça, a implacável ministra Eliana Calmon, em entrevista ao jornal “O Estado de S. Paulo”, falou sobre o julgamento do caso do Mensalão do PT, tecnicamente batizado como Ação Penal 470.

Para a ministra, esta “é uma grande oportunidade de estabelecermos alguns valores, morais, éticos, políticos, por isso o julgamento do mensalão é tão importante”. Nessa linha de pensamento, Eliana Calmon contestou a forma simplista como os advogados dos réus do Mensalão do PT abordam a tese do caixa, 2, crime que, se aceito pelos ministros do Supremo, já está prescrito. Na opinião da corregedora do CNJ, os advogados tratam a tese do caixa 2 como “se fosse conduta corriqueira, socialmente consentida”.

É importante destacar que os tais advogados foram contratados para defender os acusados de envolvimento no maior escândalo de corrupção da história nacional. E como tal, a bordo de honorários milionários, buscam de todas as formas a absolvição de seus respectivos clientes. Nem que para isso sejam obrigados a ignorar teses opostas defendidas anteriormente.

A ministra Eliana Calmon está correta ao criticar a forma deslavada como vem sendo tratado o assunto pelos advogados que desfilam pelo plenário do Supremo Tribunal Federal, mas é preciso lembrar que se o que determina a legislação vigente for levado ao pé da letra, o Congresso Nacional será fechado, pois não há no País uma campanha eleitoral sequer que dispense caixa 2. Esse tipo de prática é comum e nivela por baixo todos os políticos brasileiros, independentemente da cangalha política de cada um.

O caixa 2 tornou-se um detalhe do cotidiano do brasileiro, que passou a aceitar tal prática nas situações mais corriqueiras da vida. Um bom exemplo reside nos valores das consultas cobrados por médicos. O preço com recibo é um, enquanto sem recebido o valor é menor. No momento em que o dinheiro está cada vez mais escasso no bolso do brasileiro, o caixa 2 encontra guarida para se perpetuar como uma instituição nacional. Mesmo assim, a ministra Eliana Calmon acerta sobremaneira ao levantar a questão e ensejar uma solução para mais um descalabro nacional.