O homem que sabe demais

(*) Carlos Brickmann –

Escândalo do Mensalão? Já está sendo julgado no Supremo. Mas muito maior pode ser o escândalo que acaba de ser denunciado pelo delegado Romeu Tuma Jr., que foi secretário nacional da Justiça no Governo Lula. Tuma acusa o Governo do PT de ser ingrato com a Polícia Federal (que está em greve) e diz, como informa o jornalista Cláudio Humberto (www.claudiohumberto.com.br):

“Após o inquérito sobre a ex-secretária da Receita, Lina Vieira, dos relatórios de inteligência cuidadosamente confeccionados contra adversários, dos dossiês não investigados e dos vazamentos seletivos, o Planalto deveria atender às reivindicações da PF sem pestanejar!”

De duas, uma: ou o delegado Romeu Tuma Jr. mente ou fala a verdade. Nos dois casos, a investigação imediata e minuciosa é essencial. Se inventa histórias, atinge a reputação da Presidência da República e da Polícia Federal. Tem de ser urgentemente desmentido, e processado, para que dúvida não reste a esse respeito. Mas, se as acusações forem verdadeiras, mesmo que apenas em parte, estaremos vivendo no Brasil um quadro inaceitável de desordem institucional, comandada exatamente pelos que foram eleitos para defender as instituições.

As relações do delegado Romeu Tuma Jr. com o Planalto são tensas: foi secretário nacional da Justiça, caiu após denúncias de ligação com o contrabando apoiadas por interceptações telefônicas, o Conselho de Ética da Presidência nada achou contra ele.

Mas faz parte do grupo que sabe das coisas. Há que ouvi-lo.

A hora do Mensalão

A semana começa quente no Supremo Tribunal Federal: é a hora da defesa do presidente nacional do PTB, Roberto Jefferson, que há sete anos denunciou o caso. Há rumores de que Jefferson, advogado, chegado a atitudes teatrais, utilize pessoalmente parte de seu tempo – e não para defender-se, mas para reforçar as teses da acusação.

O certo é que, no seu horário, nenhum ministro sentirá sono.

Fortes lembranças

“Vou ser claro! Teve pagamento ilegal de recursos para políticos aliados? Teve. Ponto final. É ilegal? É. É indiscutível? É. Nós não podemos esconder esse fato da sociedade”.

O autor do libelo é o atual ministro da Justiça, José Eduardo Martins Cardozo. Quando fez essas declarações, publicadas nas páginas amarelas de Veja em 24 de fevereiro de 2008 (edição 2048), era secretário-geral do PT.

O nosso dinheiro

O deputado federal Cândido Vaccarezza, do PT paulista, entrou com representação no Conselho Nacional do Ministério Público pedindo investigação sobre o material publicado no portal Turminha do MPF a respeito do Mensalão. Este colunista não conhece os meandros da lei, mas estranha a posição do Ministério Público: sendo parte no processo – o procurador-geral fez a acusação – como gasta dinheiro do Tesouro, nosso dinheiro, para promover sua posição? Terão os réus direito a verba pública equivalente para contestar os promotores?

Este colunista torce pelo sucesso de Vaccarezza. E espera que o dinheiro gasto com a propaganda pela condenação dos réus seja devolvido ao Tesouro.

Imitando o “onde está Wally?”

Por onde anda o ministro do Trabalho, Carlos Daudt (por apelido, Brizola Neto)? No trabalho não é: hoje, uns 300 mil servidores federais estão em greve, de professores universitários a policiais rodoviários, passando pela Polícia Federal, Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), Receita. Quem negocia com eles, até agora sem êxito, são os ministros Gilberto Carvalho e Miriam Belchior. O Governo tenta reagir com propaganda, dizendo que os funcionários federais tiveram 170% de aumento desde 2003, posse de Lula, contra 70% de inflação.

Armadilha escondida

Boa parte das greves já causa problemas a quem precisa de serviços federais. Mas uma delas só vai mostrar seu potencial daqui a alguns dias: com a paralisação da inspeção federal de remédios e produtos farmacêuticos importados, tende a ocorrer desabastecimento no setor. Boa parte dos remédios fabricados no Brasil usa componentes importados.

E quem precisa dos remédios, que é que vai fazer?

O segredo da baixaria

Mal começou a campanha eleitoral, o candidato petista Paulo Haddad baixou o nível: em seu portal, um vídeo comparava o adversário tucano José Serra (que lidera as pesquisas com ampla folga sobre ele) ao dirigente nazista Adolf Hitler. Haddad parece ter aprendido algumas lições em Brasília: a primeira coisa que disse é que não sabia de nada, a segunda foi dizer que não é responsável por seu próprio portal, a terceira que o autor do, digamos, malfeito, já foi demitido.

Quem foi o demitido? Segredo total. Mas o objetivo da baixaria já foi atingido: a tropa de choque de Haddad já teve oportunidade de copiar o vídeo para divulgá-lo amplamente durante a campanha. Truque velho. E inaceitável.

Velhos tempos

Não há novidades. Antes, publicava-se uma notícia no Correio Tiririquense que depois era reproduzida como anúncio nos grandes jornais. O que evoluiu nos truques sujos foi a tecnologia.

A ética continua a mesma.