Líder do PPS denuncia “acordão” na CPI do Cachoeira e pode apresentar relatório paralelo

Jogo duplo – Líder do PPS na Câmara dos Deputados, Rubens Bueno (PR) informou, nesta terça-feira (4), que poderá apresentar relatório paralelo ao final dos trabalhos da CPI do Cachoeira, caso alguns dos integrantes da quadrilha sejam blindados pela Comissão. A reação do parlamentar se deu diante de mais um depoimento frustrado na CPI. “Estamos diante de um dos principais ajudantes de ordem da organização. Este senhor (André Teixeira Jorge, motorista da Delta Construção) se senta aqui, é dispensado, sem nenhum questionamento. Vejo que não há uma vontade maior de aprofundar as investigações, de se buscar verdade. Não estamos aqui de brincadeira”, protestou Bueno.

Apontado pelas investigações da Polícia Federal como um dos mais importantes “laranjas” do esquema criminoso comandado pelo contraventor Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira, e a Delta Construção, André Teixeira Jorge se valeu dos direitos constitucionais para permanecer calado. Porém, a mesa da CPI lhe poupou de ouvir as perguntas dos parlamentares.

Acordão

Rubens Bueno disse que, se realmente existir um grande “acordão” para livrar os políticos suspeitos de envolvimento com o esquema Carlinhos Cachoeira/Delta, ele denunciará o caso em relatório paralelo. “Vamos preparar um relatório de acompanhamento dessas investigações. Se no final essa CPI não der em nada, iremos denunciar isso à sociedade”, alertou o líder do PPS.

Segundo o líder do PPS, a relação de valores debitados na conta de André Teixeira – que, segundo registro da Previdência Social, trabalhou como motorista do ex-diretor da Delta Centro-Oeste, Cláudio Abreu – demonstra que ele é um “peixe grande” do grupo. “Ele movimentava um imenso volume de dinheiro. Ele não só sacava no dia a dia, sobretudo no período pré-eleitoral. O mais grave é que era dinheiro sacado na boca do caixa”, enfatizou o parlamentar.

Movimentação milionária

André Teixeira Jorge movimentou pelo menos R$ 3 milhões nos últimos anos. De 2002 até hoje, pelas suas contas do Banco do Brasil e do Banco do Estado de São Paulo, circularam, em créditos, R$ 1,3 milhão. A maior parte desse valor foi movimentada a partir de 2008. Segundo relatório da Receita Federal, o montante é incompatível com as fontes de renda do investigado. Há, por exemplo, depósitos que têm como origem empresas laranjas da organização criminosa, como a Emprodata. No dia 10 de agosto de 2009, a empresa depositou R$ 66.278,00 na conta de Jorge. No mesmo dia ele transferiu R$ 65 mil para Giovani Pereira da Silva, o contador de Cachoeira, ou nas palavras da procuradora Léa Batista, a “mente financeira” da quadrilha.

Calado na CPI, André Teixeira Jorge também não explicou o destino de R$ 800 mil que sacou na boca do caixa. O dinheiro foi sacado por meio de três cheques de Claudio Abreu, ex-diretor da Delta para o Centro-Oeste, de quem era motorista. O primeiro saque aconteceu no dia 20 de outubro de2010, véspera do segundo turno das eleições presidenciais e de governadores. Segundo dados da CPI, o cheque era nominal ao motorista.

No final de 2011, mais precisamente nos dias 28 e 29 de dezembro, véspera do réveillon, André Teixeira Jorge voltou ao Banco Itaú para descontar mais dois cheques de Claudio Abreu, ambos nominais ao motorista. O primeiro no valor de R$ 200 mil e o segundo de R$ 300 mil. Na época, a organização criminosa tentava se infiltrar em licitações do governo do Distrito Federal, tendo inclusive mantido contatos com secretários do governador Agnelo Queiroz (PT). Gravações feitas pela Polícia Federal mostram detalhes dessa negociação e apontam, inclusive, para a possibilidade pagamentos de propina.

Além da conta pessoal e dos saques na boca do caixa, circularam por outra conta ligada ao investigado R$ 803 mil a partir de 2008. Trata-se da movimentação da empresa Organização Independente de Comunicação, que editava o jornal O Estado de Goiás. A empresa, da qual o motorista é sócio, é na realidade, segundo a Polícia Federal, de propriedade de Carlinhos Cachoeira.

Secretário de Cachoeira

O depoente foi também funcionário da Vitapan, empresa de propriedade de Cachoeira, entre 2000 e 2006. Em 2010, foi admitido para trabalhar na Delta. Segundo o Ministério Público, mesmo na Delta André Teixeira continuava atuando como secretário informal do contraventor e laranja do esquema.

Leréia não compareceu

O outro depoimento muito aguardado seria do deputado federal o do deputado Carlos Alberto Leréia (PSDB-GO). O parlamentar alegou compromissos “inadiáveis” para não comparecer à CPMI. Os integrantes da comissão decidiram convidá-lo para vir ao colegiado em novembro. Leréia é alvo de uma comissão de sindicância da Corregedoria da Câmara, que vai apurar se há indícios de quebra de decoro parlamentar em razão de ter sido flagrado pela Operação Monte Carlo, da Polícia Federal (PF), em conversas telefônicas com Carlinhos Cachoeira. Ele também teria recebido recursos do grupo.