Jogo de cena – Por sua pujança nos cenários nacional e internacional, a cidade de São Paulo merece um processo eleitoral minimamente melhor do que aí está. A briga pela prefeitura é tão grande e covarde, que os candidatos simplesmente deixaram de lado as propostas e partiram para os ataques cruzados, o que em tese garante a passagem ao segundo turno da corrida ao trono paulistano.
Quando os ataques cessam e entram em cena algumas parcas propostas, estas são tão absurdas do ponto de vista legal e orçamentário que a vontade é mudar de canal quando os candidatos estão participando de debate. Foi o que aconteceu no debate provido pela TV Gazeta, na noite de segunda-feira (24), quando os primeiros conchavos entre os candidatos começaram a ficar claros. Por dinheiro, acordos políticos ou promessas de cargos futuros, alguns candidatos já não tacam determinados adversários, mas pelo contrário. Dedicam-se a perguntas suaves ou concordam com as colocações dos opositores, como se o eleitorado fosse um bando de néscios.
Se dez por cento das mirabolantes propostas apresentadas até então chegarem ao campo da realidade, São Paulo quebra em menos de um ano, tamanha é a utopia que recheia o discurso dos que postulam a cadeira de Gilberto Kassab, um dos piores prefeitos da história da maior e mais importante cidade brasileira.
Como se não bastasse, a maioria dos candidatos tem em suas respectivas campanhas algum vínculo com o Mensalão do PT, cujo julgamento avança no Supremo Tribunal Federal. O PT de Fernando Haddad dispensa maiores apresentações. O PSDB de José Serra conta com o apoio de Valdemar Costa Neto, do PR, cuja condenação foi pedida por dois ministros. O PRB de Celso Russomanno cometeu a besteira de assinar o desagravo a Lula, depois das acusações de Marcos Valério. Fora isso, o PRB tem o apoio do PTB, cujo presidente nacional é ninguém menos que Roberto Jefferson. O PMDB de Gabriel Chalita assinou o documento em favor de Lula e aguarda a condenação de José Borba, líder do partido à época do escândalo. O PDT de Paulo Pereira da Silva assinou o desagravo à Lula, por meio do seu presidente, o enrolado Carlos Lupi.
Detalhes técnicos à parte, todos os candidatos, até mesmo os nanicos, estão de olho em algum tipo de lucro, mesmo que seja para vender apoio aos que passarem ao segundo turno. Os do pelotão da frente miram um orçamento anual de R$ 39 bilhões, o que permite sonhar com negócios pouco ortodoxos e nada recomendáveis. Até porque, como sempre afirmamos, política é negócio dos bons e para poucos.