Disputa pela prefeitura da maior cidade brasileira deixa importante recado a todos os políticos do País

Radiografia do amanhã – Independentemente dos resultados das urnas de domingo (7), o período eleitoral deste ano por si só serve de reflexão para muitos partidos e lideranças políticas em todo o País. Cansado da mesmice política, o eleitorado brasileiro, em sua maioria, quer distância dos velhacos que usam o mandato eletivo como atalho para a corrupção. O julgamento do Mensalão do PT, pelo Supremo Tribunal Federal, tem extraído da sociedade manifestações que apontam de forma insistente nesta direção.

Tomemos como base desta análise a maior e mais importante cidade brasileira, São Paulo, por onde passam todos os desígnios da política nacional. Sem ter ao menos ideia do orçamento do município para 2013, que será de R$ 42 bilhões, o eleitor busca renovação, não importando o currículo e a experiência do candidato que se apresenta como novidade revolucionária. Como no Brasil a política tende à personificação, os partidos precisam redobrar os cuidados no momento de escolher um candidato. Considerando que o brasileiro não dá muito importância aos assuntos da política, um candidato que é só currículo não vence eleição. Simpatia e cara bonita também não. É preciso encontrar o meio termo.

O melhor exemplo dessa necessidade do novo é Celso Russomanno, que não é um estreante na política, pelo contrário. Representando um partido quase desconhecido, o PRB, e sem qualquer experiência administrativa, Russomanno liderou as pesquisas de intenção de voto durante algumas semanas. Sem propostas consistentes e refém da tentativa da Igreja Universal do Reino de Deus de politizar a religião na capital dos paulistas, o candidato do bispo Edir Macedo viu sua candidatura derreter na esteira de acusações dos adversários e de episódios passados. A disputa pelo comando da quarta maior cidade do planeta não se ganha com obreiros de igreja, mas isso pode acontecer. Eis o perigo, pois o Estado é laico.

O alto índice de rejeição de José Serra, do PSDB, se deve em parte ao desgaste do próprio candidato e pelo efeito viral das maledicências político-eleitorais. Serra, que vem participando de eleições majoritárias desde 2002, foi vítima da promessa não cumprida de permanecer na prefeitura paulistana até 2008. Abandonou o mandato no meio para disputar o governo estadual. Em seu lugar deixou Gilberto Kassab, um dos piores prefeitos da história da cidade. Como o PSDB paulista é um capítulo estranho e à parte do próprio partido, em que prevalece a soberba de quem um dia frequentou a Esplanada dos Ministérios, falar em mudança e renovação é quase proibido no tucanato. Se os coronéis do PSDB não apostarem na renovação dos seus quadros como forma de sobrevivência política, a oposição tenderá a encolher continuamente. Do passado vivem os saudosistas e os arqueólogos, política é mutante e futurista. E o PSDB não pode se transformar em um punhado de viúvas de Covas e FHC.

Na seara petista é importante reconhecer a ousadia de Lula, que apostou na renovação, apesar de obrigado a enfrentar alguns companheiros de legenda e sendo seu candidato um ilustre desconhecido dos paulistanos. Mesmo que Fernando Haddad seja um “lulodependente”, o ex-presidente conseguiu a proeza de tirar seu pupilo do anonimato – e também dos baixos índices de intenção de voto (3%) – e colocá-lo no grupo dos três principais participantes da corrida à prefeitura de São Paulo. Em outras palavras, Lula, mesmo com os efeitos do Mensalão do PT, ainda não morreu politicamente. O que não deve acontecer tão cedo. No contraponto, Lula terá de repensar o PT junto com seus companheiros, caso queira sobreviver na esfera política. De chofre é preciso cortar na própria carne e expurgar os mensaleiros, que nesta eleição levaram a legenda à fronteira do ralo. O segundo passo é buscar um nome forte para substituí-lo, mesmo que o escolhido não seja um “animal político” como é o ex-metalúrgico. Para piorar, é cada vez mais evidente e visível que Lula ainda sofre com a saúde.

O PMDB, que no estado de São Paulo ainda não se reinventou depois da hegemonia do falecido Orestes Quércia, que dominou o partido durante décadas, poderia ter chegado mais longe se tivesse optado por um candidato mais carismático e incisivo ou, então, turbinado o escolhido. Gabriel Chalita, que foi secretário da Educação no governo de Geraldo Alckmin, é conhecido pelo eleitorado como bom moço e com fácil trânsito no mundo católico da fé. O que é muito pouco para angariar votos que garantam a vitória em eleição desse naipe. A cúpula da campanha de Chalita estava recheada de políticos muito experientes, mas faltou Michel Temer, vice-presidente da República, estar mais presente na campanha. Até porque, participar da campanha nos bastidores ou pelo celular não garante votos.

Que fiquem as lições, mas que o eleitor deixe de se interessar pela política apenas a cada dois anos, pois o futuro de uma nação se constrói em todos os segundos do presente!