(*) Ucho Haddad –
Reza a nossa tão desrespeitada Constituição que é livre a manifestação do pensamento, desde que vedado o anonimato. Pois bem, no Brasil da última década o pensamento aceito é aquele da esquerda ou que adula seus integrantes.
Na juventude, como qualquer adolescente, acreditava ser de esquerda. O tempo passou e percebi que era de centro-esquerda. De direita nunca fui. Hoje chego à conclusão que sou politicamente lógico, mas passando a léguas de distância do pragmatismo radical. Lembrando também que conversa fiada não me convence.
Oscar Niemeyer morreu na noite de quarta-feira (5), mas o “day after” rompeu fervente na imprensa nacional. A cibernética tropa de choque do PT discordou do pensamento do jornalista Reinaldo Azevedo, que classificou Niemeyer usando uma frase do genial Millôr Fernandes: “Metade é gênio, e metade é idiota”. Foi a centelha que precisava para acender o rastilho de pólvora da utópica esquerda nacional, que durante mais de um século idolatrou o arquiteto que participou da criação de Brasília.
Reinaldo Azevedo, como sempre acontece, foi execrado e a Veja foi classificada como revistinha. Essa tal revistinha é a mesma que os atuais donos do poder visitavam a redação com suspeitos dossiês debaixo do braço. Em outras palavras, o Brasil já vive uma ditadura em termos de pensamento. Ou se pensa como quer a esquerda, ou nada feito.
Respeito e admiro a coragem e o trabalho de Reinaldo Azevedo, mas preciso discordar parcialmente da forma como ele classificou Oscar Niemeyer. Comecemos pela “metade idiota”. É fato que o arquiteto pensava e escrevia coisas deploráveis, mas de idiota nada tinha. Alguém que durante toda a vida defende o comunismo radical e enriquece com o dinheiro do povo não pode ser idiota. A maioria das obras de Niemeyer foi para governos. Ou seja, Oscar Niemeyer foi um comunista na acepção da palavra. Falava no tudo comum a todos, mas queria ver o suado dinheiro dos impostos pagando suas obras. Não poderia ser diferente, afinal era um comunista detraqué e exalava esse ranço ideológico.
No quesito da “metade gênio” vou concordar com Reinaldo Azevedo, mas não plenamente convicto. Confesso que jamais vi graça nas obras de Oscar Niemeyer. Não fosse o urbanista Lúcio Costa, o verdadeiro idealizador de Brasília, Niemeyer teria ido pouco além do Complexo da Pampulha, encomendado pelo exibicionista Juscelino Kubistchek de Oliveira.
Quando penso nas obras de Oscar Niemeyer logo me vem à mente as agências do antigo Banco Real. Em sua extensa maioria eram quase todas idênticas à matriz. E foi o que Niemeyer fez ao longo dos anos em esteve diante da prancheta. Algo como uma mesma música com letra diferente.
Analisemos algumas poucas obras desse idolatrado arquiteto para avaliarmos sua metade de gênio. O Congresso Nacional é uma aberração arquitetônica se considerados os espaços sem ventilação que lá existem. O corredor que leva aos gabinetes dos senadores, conhecido como “Túnel do Tempo”, é um tubo de concreto sem qualquer entrada de ar, sob o sol escaldante de uma cidade encravada no Centro-Oeste. Ainda no Congresso Nacional, o túnel que leva ao Anexo IV é igualmente sem ventilação e revestido, do piso ao teto, com carpete. Resumindo, até mesmo um defunto é capaz de suar dentro do Congresso Nacional.
A Catedral de Brasília é outro absurdo arquitetônico que saiu dos rabiscos de Oscar Niemeyer. Conhecida mundialmente, a Catedral de Brasília funcionaria melhor como boate, pois qualquer cidadão que participar de uma missa durante o dia terá a sensação de estar em uma sauna abençoada pelo Senhor. O sol atravessa o vitral e transforma o recinto em uma espécie de fornalha. O Museu Nacional, também em Brasília, é outra obra do absurdo. No Memorial da América Latina, o governo paulista enfrentou verdadeira batalha para ter o direito de instalar um ar-condicionado em determinado local. E paro por aqui, pois dizem que atirar pedra em morto é covardia e dá azar.
Arquitetura, que saibam os aduladores de Niemeyer, não é apenas estética, curvas, cores, etc. É preciso, acima de tudo, ser o caminho para um espaço com doses mínimas de habitabilidade. O que inexiste em muitos edifícios em Brasília, que sequer podem ser alterados para a instalação de um tão necessário aparelho de ar-condicionado. E quem quiser trabalhar que derreta, pois Oscar Niemeyer foi o nosso último gênio, que jamais pensou na possibilidade de alguém ter claustrofobia.
A obra de Oscar Niemeyer não é ruim, mas não me agrada e invariavelmente suas construções são impossíveis de serem frequentadas. Se a mídia internacional deu grande destaque à morte de Niemeyer, é porque tem muita gente que não pensa como eu e o Reinaldo Azevedo. Mas nós temos o direito de pensar o que der na telha. E de escrever também.
A esquerda tupiniquim está viúva e continuará idolatrando alguém que, arquitetura e obras à parte, sempre foi um utópico em termos políticos. Que me perdoem os que abaixo dele estão na árvore genealógica da família, mas Niemeyer foi politicamente estúpido. Congraçava-se com governantes assassinos, mas não importava a barbárie porque eram companheiros de comunismo.