(*) Marli Gonçalves –
Digo tchau, que foi bom. Dá, sei lá, que os maias estejam certos. Melhor a gente já se despedir agora. Mas, se o mundo não se acabar, o que parece muito mais sensato, abro meu saquinho de bondades para desejar um monte de coisas para você. E para mim, que também sou filha de Deus
Se o mundo acabar, que seja em melado, para a gente ficar docinho. Que seja em pudim, para além de ficar docinho, ser macio. E, sei lá por que, pensei em churros – gosto deles, seus malvados!
Mas não vai acabar não, porque temos muitas contas a pagar, e os banqueiros não iam deixar acontecer uma situação dessas. Fora que a gente ainda tem de viver para ver o penta jogando, ouvir novas previsões catastróficas do Apocalipse e de uma Besta qualquer, sofrer com o aquecimento global, procurar vida em outros planetas, entre outras atividades. Acabar com a corrupção, ver um país mais justo, moderno e ordenado, não digo – porque é ruim desejar coisas impossíveis. Se isso acontecesse é porque, então, o mundo já teria acabado e se esqueceram de nos avisar.
Dizem que as palavras são como flechas, que são poderosas, o que certamente explicaria o horror que temos de pragas rogadas. E também a fé que temos em orações. Certamente vivas para quem escreve, as palavras carregam mesmo uma grande energia, e algumas são mais belas e imponentes que outras. Umas mais fortes e significativas; tem as feias, as grosseiras, as divertidas, as proibidas, as esquecidas, muitas. Outras, as que eu bem gosto de encontrar, são as mágicas, que são aquelas que procuram – e muitas vezes conseguem – deixar mais felizes quem as usa, quem as lê, quem as ouve.
Quero desejá-las. A chuva depois da seca. O frescor do cheiro da terra. Que todas as estações sejam férteis, e se forem de rádio, que toquem boas músicas. Que tenha meias macias e quentes para os pés no frio (e cobertor para as orelhas), chinelinhos para descansá-los no calor, sapatos confortáveis para trilhar as estradas, e que estas sejam sempre de boas idas e boas vindas. Nenhum prego ou caco no caminho se decidir seguir descalço. Quero que você não encontre quinas para bater esses seus pés, nem os dedinhos, nem buracos para tropeçar.
Que inventem martelos inteligentes para fixar os pregos onde poderá pendurar a arte que quiser ver e conviver nas suas paredes. Que possa abrir as janelas para o ar puro entrar e renovar.
Que o acesso seja livre. Por ar, mar, terra, seja em qual veículo decidir viajar – ônibus, metrô, bicicleta, carro, moto, balão, avião, navio ou submarino. Ou via pensamento, pelos livros. E que todos os combustíveis sejam limpos e seguros. Enfim, que possa flanar por aí, ou parar, se quiser, para ver as belezas do mundo com os olhos límpidos e precisos, e que você aprenda a piscar e olhar daquele jeitinho cativante e envolvente, como fazem cães e gatinhos, e assim consiga que lhe digam sim.
Que consiga desatar o nó que te prende a uma coisa que não quer mais e solte suas amarras. Ou que consiga jogar uma âncora se quiser aportar. Que tenha uma graciosa fita para o laço bonito de juntar.
Que só fique invisível quando quiser. Fora isso que as imagens de tudo que viver e viveu sejam registradas em fotos coloridas, escolhidas, ângulos que você já lembre na ordem revivendo os bons momentos que elas registrem.
Que conheça o orgasmo, muito prazer, possa estar sempre com a sua pessoa amada. Que tenha flores para cuidar. Valores a zelar. Uma criança para ver sorrir – ou lhe oferecendo as mãozinhas para serem guiadas por este mundo que não se acabou.
Não custa também desejar, se o mundo não se acabou, que a gente possa comer o que quiser, incluindo os tais chocolates todos, e a nossa pele, os cabelos, o corpo se regenerem continuamente. Vaique…
Se o mundo não acabar, desejo que não falte nada para a gente, dentro de possibilidades que sejam iguais a todos, com as moedas tilintando ouros. Ouros que podem ser impalpáveis, inclusive na forma de grandes ideias e realizações que transformem esse mesmo mundo que sobreviveu em um lugar melhor para se viver.
E, já que ele não se acabou… Que possamos beijar muito e continuar cantarolando por aí.
…”Anunciaram e garantiram/Que o mundo ia se acabar/ Por causa disso/Minha gente lá de casa/ Começou a rezar… E até disseram que o Sol/ Ia nascer antes da madrugada/ Por causa disso nessa noite/ Lá no morro/ Não se fez batucada…/Acreditei nessa conversa mole/ Pensei que o mundo ia se acabar/ E fui tratando de me despedir/ E sem demora fui tratando/ De aproveitar…/ Beijei a boca/ De quem não devia/ Peguei na mão/ De quem não conhecia/ Dancei um samba/Em traje de maiô/E o tal do mundo/ Não se acabou…/ Chamei um gajo/Com quem não me dava/ E perdoei a sua ingratidão/ E festejando o acontecimento/ Gastei com ele/ Mais de quinhentão…/ Agora eu soube/ Que o gajo anda/ Dizendo coisa/ Que não se passou/ E, vai ter barulho/ E vai ter confusão/ Porque o mundo não se acabou…
Já ouviu essa música do Assis Valente, com a Carmem Miranda? Corre, antes que, sei lá. Vaiqui…
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São Paulo, 2012-2013, calendário romano
(*) Marli Gonçalves é jornalista – No dia 21 de dezembro espera dar muita risada.
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