Os maias eram petistas e o fim do mundo foi inventado para salvar Lula e os condenados no mensalão

    Ucho Haddad –

    Sexta-feira, 21 de dezembro de 2012, às 14h22. Eis o momento exato em que, segundo os antigos maias, o mundo há de acabar. Confesso que não imaginei desaparecer tão cedo, aos 54 anos, pois sei que ainda tenho muito a fazer e escrever, mas se a profecia se confirmar, não há o que lamentar. Simbora todo mundo.

    O problema dessa anunciada profecia, que está levando muito gente ao frenesi, deve por fim ao mundo com fogo, pois, diz a Bíblia, que da outra vez foi com água. Foi então que surgiu Noé e sua salvadora arca. O problema de o mundo acabar torrado é que abaixo da linha do Equador estamos em pleno verão e quem tem alguns quilinhos extras sua barbaramente sob qualquer temperatura ligeiramente elevada. Caso a profecia vingue, chegarei ao outro lado da vida, se é que isso de fato existe, como boi no rolete. Morto e todo chamuscado.

    Mesmo não acreditando nessas profecias oportunistas, como a do bug do milênio, prefiro aguardar a chegada da sexta-feira para ver o que realmente acontecerá. Se o mundo acabar de fato no dia 21, perderei o peru do Natal, deixarei de orar à meia-noite, não poderei me atracar em algumas sobremesas especialmente deliciosas e que saem do fogão de uma prima doceira profissional.

    Paciência, quando uma porta se fecha, na sequência outra melhor se abre. Pelo é assim que os otimistas de plantão pensam e vociferam. Decidi que vou embarcar nessa teoria. Se o mundo acabar de verdade na sexta-feira, 21, começarei o ano sem as dívidas que acumulei em 2012, deixarei de pagar o IPVA e o seguro do carro, ficarei livre da declaração do Imposto de Renda. As ex-mulheres não me telefonarão mais pedindo isso ou aquilo. Apesar de que nos últimos tempos elas, as “falecidas”, têm sido boazinhas e compreensíveis. E se não fossem de nada adiantaria, pois jornalista que não se corrompe tem pouco a contribuir. Pensando bem, esse tal do fim do mundo não é uma má ideia.

    Acho que o mundo, se os maias quiserem, pode acabar de vez. As coisas importantes que busquei neste ano acabei conquistando. O meu relacionamento com a minha filha, Maria Luiza, já era bom e melhorou sobremaneira. Ela tem sido uma companheira inenarrável e inseparável. Daquelas que se preocupa comigo se souber que estou triste. O único problema é que ela se parece comigo. Uma versão sem retoques do Ucho de saia. Até o temperamento é igual. Coitada!

    Outra grande conquista foi reencontrar o meu filho, João Francisco, que há sete anos não o via. Hoje ele está na Ásia fazendo uma viagem incrível, no estilo mochileiro. Mas está curtido à beça. É jovem, boa pinta, responsável e tem apenas 23 anos. É o momento certo de aproveitar, antes que seja tarde. Mas não poderei recebê-lo, de braços abertos, na volta. O Corinthians venceu a Libertadores e foi campeão do mundo, o que me livra de chacotas de adversários lá embaixo.

    Porém, como depois de trinta anos o meu ópio é o jornalismo político e um pouco menos de tempo o jornalismo investigativo, estou achando que os antigos maias eram petistas. Veja só, se o mundo acabar na próxima sexta-feira, Lula escapa de todas as confusões em que se envolveu. Não precisará comprar um presente de Natal para a namorada Rosemary, a Marquesa de Garanhuns. Deixará de dar maiores explicações à Dona Marisa sobre mais esse affair, que já dura quase duas décadas. José Dirceu, Delúbio Soares e João Paulo Cunha não iram para a cadeia, assim como Marcos Valério e a turma do Banco Rural. Os parlamentares condenados no Mensalão do PT não perderão o mandato e morrerão queimados como deputados. O que deve fazer uma enorme diferença. O dinheiro que essa turma roubou com certeza virará cinzas. Até porque na seara de lúcifer, dizem, não tem shopping, duty free e nem cassino.

    A minha maior preocupação com a eventual confirmação dessa amalucada profecia é com o meu destino após a terra se transformar em uma enorme e ardente churrasqueira de gente. Se é verdade essa coisa marqueteira da igreja de que existe céu, paraíso e inferno, prefiro a última opção, desde que distante da fornalha do capeta, pois como mencionei anteriormente, todo sujeito com excesso de peso sua demasiadamente, ainda mais no calor excessivo. Outro motivo pelo qual quero ir para o inferno é que lá encontrarei os canalhas de sempre e sobre eles poderei continuar escrevendo e destilando a crítica ácida de todos os dias. Sem contar que por lá não tem apagão ou blecaute, pois a luz ambiente vem da fogueira luciferiana, do mármore do inferno.

    Mas, se os maias falharem e o mundo não acabar, vou me preparar para enfrentar os carnês, os processos movidos por gente que não gostou do que escrevo. Jornalismo tem dessas coisas. Fora isso, o Lula para de encher o saco e a Dilma não será reeleita. Só assim o Brasil se livra dessa quadrilha e a corrupção acaba.

    Sendo assim, Lula e Dilma estarei esperando vocês logo na entrada da recepção. Torço que cheguem bem bronzeados, para não fazer feio no meio de tanta gente queimada e parecer ariano soberbo e deslocado. Porém, se o mundo não acabar na sexta, pagarei os carnês quando puder, mas o pau continuará cantando na direção do Palácio do Planalto.

    Que venham os maias com essa história de fim do mundo!