(*) Ucho Haddad –
O Natal se aproxima, o Ano Novo também. Os desejos de todos, de cada um, se renovam nesta época do ano. Promessas surgem como bolhas de sabão no ar. Algumas voam em direção à realidade, outras somem no etéreo. A vida tem uma cadência que torna impossível fazer ao mesmo tempo tudo o que imaginamos e desejamos. É por isso que acredito no momento certo.
Não por isso deixei de fazer a minha promessa, que é menos difícil de cumprir do que emagrecer, parar de fumar, resgatar um amor, reaver uma amizade perdida, entrar na faculdade, manter a família unida, junta e misturada. A minha promessa, que está de acordo com a minha capacidade de cumprir, é continuar o mesmo, mas sempre procurando melhorar. É manter a esperança de que é possível mudar o que aí está, de que juntos podemos fazer um Brasil diferente e melhor, livre desses males que tanto nos atormentam e atormentaram em 2012. Quando isso acontecer, quando todos tiverem sua dignidade respeitada, aí sim será Natal. Todos os dias, sempre!
Continuar o mesmo pode ser uma coisa chata e sem graça aos que desconhecem o meu cotidiano, mas é uma exaustiva empreitada ser assim. Obstinado, focado e de olho no todo. Alimentando a crença, driblando o inimigo. Escrever horas a fio, sem qualquer interrupção. Só não escrevo mais porque o físico não acompanha a velocidade do raciocínio e nem a intensidade do desejo. Mas é desse jeito que sou feliz. Escrevo porque sou feliz, sou feliz porque escrevo. É paradoxal, mas só assim sei existir. Durmo com a consciência tranquila, leve, com a sensação do dever cumprido. Mesmo que amanhã tenha de começar tudo outra vez, escrever contra um, criticar outro, discordar de algum fato, alertar para o escuso. Para alguns pareço ser sempre do contra, mas é porque serei sempre a favor do Brasil e dos brasileiros.
Estou jornalista porque Deus quis assim. Ele é quem me dá a cada instante a capacidade de transformar em palavras tudo o que penso e sinto. É Dele a serenidade que emoldura o meu pensamento. Faço o que gosto. Na verdade, amo o que faço!
O jornalismo é o ar que respiro, é o ópio que sustenta o vício do intelecto. É a brisa soprando no coração, é o afago na alma. É a razão do amanhã, é o orgulho de ontem. É o que me faz feliz hoje, é o que meus filhos terão para contar no futuro. Nada seria se não pudesse escrever. Se não pudesse ver brotar na tela do computador o meu pensamento, os meus ideais, as minhas críticas, as minhas ideias, os meus sonhos, as minhas realizações. Sempre renasço no parágrafo seguinte, busco energia em cada vírgula, mato a sede no ponto e vírgula. Repouso entre parênteses, suspiro no ponto final, paro diante do travessão. Na outra linha levanto-me para de novo escrever, escrever, escrever… Para ser eu, para ser feliz.
O tempo avançou e no seu passar fui descobrindo o desapego. Há quem me pergunte, com certa insistência, qual é o meu sonho maior, imaginando que seja algo material. Sempre respondo que nada mais posso sonhar, pois o Criador me permitiu escrever. Não bastasse, deu a mim o melhor de todos os presentes para quem escreve: ter quem leia. Por isso, na minha pequena e solitária seara, o Natal acontece todo dia, o dia todo, a cada matéria que publico, a cada artigo que escrevo, a cada foto que posto, a cada comentário que leio, a cada pensamento que tenho, a cada elogio que recebo. É como se rasgasse o papel de um só presente a cada instante.
Continuarei o mesmo, continuarei o Ucho. Tentarei revisitar meus sonhos, farei o possível para recriar o cotidiano, me esforçarei para renovar meus planos, saberei guardar amores derradeiros e cuidar dos amados. Continuarei o Ucho, continuarei o mesmo.
Procurarei ser melhor filho, aproveitando ao máximo o tempo que resta àquela que é diuturna e indevidamente xingada por muitos. Procurarei ser melhor pai, convivendo mais e mais com minhas adoráveis reticências, que todos os dias me ensinam. Procurarei ser melhor amigo, dedicando atenção aos que levo no lado esquerdo do peito. Procurarei ser melhor jornalista, escrevendo para tocar a alma e o pensamento dos que leem. Procurarei ser melhor ser, procurando sempre um jeito novo de ser, sem deixar de ser o mesmo ser de sempre. Procurarei, procurarei, procurarei…
A todos, os que me leem, os que me seguem, os que me escrevem, os que me criticam, os que me corrigem, os que me odeiam, os que torcem por mim, os que são contra, os que discordam, os que sugerem, os que me acompanham, os que me repreendem, os que me abandonam, os que me ajudam, os que aparecem, os que somem, os que colaboram, os que vejo sempre, os que nunca vejo, os amigos, os inimigos, os mais ou menos, os quase nada, os quase tudo… A todos, a cada um, desejo e dedico o melhor sempre. Hoje, no Natal e em 2000 e sempre.
Sejam sempre felizes, sempre, como sou a cada vez que escrevo. Feliz Natal a todos, Feliz Natal a cada um!