Mundo velho sem fronteira

(*) Carlos Brickmann –

Títulos de jornais, nestes dias de Ano Novo:

• Em Nova York, mulher diz que matou indiano “por ódio”.

• Jovem de origem turca é atacada com ácido na Alemanha.

• Islamitas degolam cristãos na Nigéria. Quinze pessoas foram mortas.

• No Paquistão, ataque contra peregrinos xiitas mata 19.

• Herói olímpico britânico, Mo Farah é barrado na imigração dos EUA, suspeito de ser terrorista da Somália.

Mo Farah é filho de mãe somali e pai britânico, é cidadão britânico (país em que sempre viveu), foi medalha de ouro, pela equipe britânica, nas provas de 5 e 10 mil metros dos Jogos Olímpicos de Londres. Tem greencard, permissão para viver nos Estados Unidos, e mudou-se para lá, para treinar em Portland, Oregon.

Mas é preto – e a cada vez que entra nos EUA enfrenta problemas.

O mundo comemora, pelo calendário cristão, 2013 anos de cristianismo. Jesus, ensina a doutrina, é simultaneamente Deus e seu filho homem. Este Deus, que se revelou a Abrahão e ditou os Dez Mandamentos a Moisés, é o mesmo dos muçulmanos (que o chamam, em árabe, de Alá) e dos judeus (seu nome, que se perdeu após a destruição do Templo de Jerusalém, é representado por quatro letras não pronunciáveis, IHVH). É o Deus que, ensinam os livros sagrados, criou o Homem à Sua imagem e semelhança.

Se todos foram criados à Sua imagem e semelhança, como entender que ainda hoje haja preconceito de etnia e religião?

Veja, mamãe…

Os vivos são cada vez mais governados pelos mortos (Augusto Comte)

Os vivos são cada vez mais governados pelos mais vivos (Barão de Itararé)

Fernando Haddad, novo prefeito de São Paulo: “O PT é o partido mais vivo do país”.

…sem as mãos

Não é a única declaração interessante do novo prefeito paulistano. Haddad diz também que põe as duas mãos no fogo pelo ex-presidente Lula.

O Capitão Gancho pelo menos tinha a desculpa de que o jacaré o pegou de surpresa.

Parada rápida

O trem-bala brasileiro não é lento, nem devagar-quase-parando. O trem-bala brasileiro continua magnificamente parado, e isso há muitos e muitos anos.

Já no Governo Dilma, o presidente da Associação Nacional dos Transportes Terrestres, Bernardo Figueiredo, um dos auxiliares favoritos da presidente, prometeu divulgar o edital de licitação do trem-bala até 10 de março de 2012. Depois mudou a data para 29 de julho. Já mudamos de mês, agora de ano, o trem-bala continua na estação, mais parado que projeto de redução de salário de parlamentares no Congresso. O mais curioso é que não está definido nada: quantas serão as paradas entre Campinas e Rio, se o trajeto será mesmo entre Campinas e Rio, qual é o projeto – sem projeto, sem saber se haverá túneis, quantos, o solo que vai enfrentar, o raio de curva, a inclinação máxima da ferrovia, como é que uma empresa séria pode calcular seus custos para entrar na concorrência?

Se não chover

O trem-bala, que deveria estar pronto para a Copa, desafogando um pouco os maiores aeroportos do país, Cumbica e Galeão, não fica pronto nem para os Jogos Olímpicos de 2016. Com reza brava, sorte e um pouco de trabalho, quem sabe poderá ser inaugurado lá por 2019, para funcionar a pleno vapor em 2020?

Errar é humano…

Bem recente: dois presidiários, que tinham recebido o indulto temporário de Natal, foram presos no dia 26, com 50 pedras de crack. E por que eles estavam condenados? Acertou: por tráfico de drogas. Dá para fazer um belo apanhado de bandidos sem família que saíram para o Dia das Mães ou Dia dos Pais, de gente perigosa que sai no Natal e no Ano Novo – mas basta citar os números: só em São Paulo, 23 mil condenados receberam o benefício de ficar livres nas festas de fim de ano.

Mas, se podem ficar fora da cadeia nas festas de fim de ano, sem problemas, por que ficam presos o resto do ano? Ou oferecem perigo ou não oferecem. Se oferecem, não podem sair. Se não oferecem, por que estão presos?

…repetir é burrice

Prender uma pessoa é caro, perigoso e pode provocar tragédias: policiais mortos ou feridos, pessoas inocentes atingidas, desastres de veículos. O custo de prender, apurar e julgar (mobiliza-se juiz, promotor, investigadores, policiais para a segurança) é alto. Aí se solta um criminoso condenado porque é Natal, porque é Ano Novo, porque é Dia do Calendário Maia. Não tem sentido. Todos os anos o problema se repete, com assaltos, tráfico, mortes. Para quê? Para nada.

Amor perigoso

O presidente do Congresso, senador José Sarney, PMDB do Amapá, promete não se candidatar mais a cargo algum, quando terminar, no último dia de 2014, seu atual mandato. Mas promete voltar ao Maranhão, “uma saudade que não passa”. Se de longe ele faz o que faz com o Maranhão, imagine estando presente!

(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.