(*) Carlos Brickmann –
O ex-ministro e candidato permanente José Serra, do PSDB, vem-se queixando de seu isolamento partidário. Há quem diga (entre eles, alguns de seus amigos) que pensa em deixar o PSDB para aderir a um outro partido, ou mesmo fundar um partido novo, para se candidatar à Presidência mais uma vez.
José Serra é um candidato interessante: como acha que está isolado, quer dar um jeito de ficar mais isolado ainda.
O fato é que Serra se candidatou duas vezes e foi derrotado. Seu grande guru político, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, lidera hoje as articulações para que os tucanos lancem a candidatura do senador mineiro Aécio Neves. Tudo bem que Serra não queira apoiar Aécio, que o traiu nas duas vezes em que se candidatou; mas sair sozinho, sem estrutura, para disputar um cargo que já tentou duas vezes, a bordo de um partido estruturado, sem sucesso, ou é vingança boba ou ansiedade de quem, mais velho que os concorrentes, não quer deixar de aproveitar a última oportunidade de chegar lá. Ulysses Guimarães, o lendário comandante da oposição à ditadura militar, fez coisa parecida: barrou no PMDB o candidato mais forte, Orestes Quércia, por achar que ele, Ulysses, tinha ali sua última chance. Perdeu feio, claro. E cortou definitivamente o caminho de Quércia para o Planalto. Por incrível que pareça, o PMDB só chegou lá com Sarney.
Dá para ganhar sozinho? Dá; mas as chances são mínimas. O correto é juntar forças, armar estruturas, forjar alianças de peso. Eleição é união.
União nanica
Serra, na verdade, quer forjar alianças. Por exemplo, com o PPS de Roberto Freire. É a união da falta de fome com a vontade de não comer.
Nanicos, uni-vos!
A ex-senadora Marina Silva bem que se articula para ser candidata novamente ao Palácio do Planalto. Nas últimas eleições, foi bem, no comando de um partido pequeno, o PV, mas navegando uma oportuna onda verde. Desta vez, pensa em unir-se ao Partido Ecológico Nacional. Procure no Google, deve estar lá.
Na zona do agrião
Lembra de Ciro Gomes, antilulista, lulista, tucano, ex-arenista, candidato à Presidência, candidato que não chegou lá à Prefeitura de São Paulo? Agora ele mudou mesmo de ramo: é o novo comentarista esportivo da rádio Verdes Mares, de Fortaleza, do grupo Édson Queiroz. Vai acompanhar os treinamentos da Seleção brasileira para a Copa das Confederações e a Copa do Mundo. O salário não foi divulgado, mas os comentários são de que foram muito bem negociados.
Detalhe interessante: Renata Queiroz, filha do falecido empresário Edson Queiroz, é esposa do tucano Tasso Jereissati, que foi amigo-aliado-irmão-de-fé de Ciro e de seu irmão, o governador Cid Gomes, até que a política os separou.
Haverá no magnífico contrato de Ciro Gomes algum sinal de reconciliação?
Já avisaram os enfermeiros?
O novo secretário da Segurança de São Paulo, procurador Fernando Grella, determinou que pessoas feridas em confronto com a Polícia e vítimas de crimes só possam ser socorridos pelo SAMU, Sistema de Atendimento Móvel de Urgência, nunca pela PM.
Grella jamais contará a verdade inteira sobre sua decisão (e o governador tucano Geraldo Alckmin nem sabe muito bem o que é que esta estranha palavra, “verdade”, significa – e basta olhar seu nariz compridinho e fininho para ter certeza disso), mas o objetivo é impedir que, após ferir pessoas em tiroteios, certos policiais militares terminem o serviço – o que vem acontecendo com frequência rigorosamente inaceitável.
O problema é outro: alguém já avisou o SAMU de suas novas funções e lhe forneceu verbas e estrutura para exercê-las? O número de ambulâncias do SAMU não é suficiente nem para atender a seu trabalho atual. E a norma do secretário da Segurança não faz qualquer menção ao reequipamento do serviço.
No fundo, é bola pra frente que talvez dê certo em alguma ocasião.
É isso aí
Uma assídua, inteligente e articulada leitora desta coluna comenta a nota de abertura da última coluna, a respeito da inacreditável decisão do deputado José Genoíno de tomar posse na Câmara, mesmo condenado à prisão. Seu comentário, baseado em Jean-Paul Sartre: “José Genoíno diz ter a consciência serena dos inocentes. Com certeza, desconhece qualquer ensinamento de Sartre. Outro conselho do filósofo era o de ‘pensar contra si próprio’. Ou seja, sugeria que sempre desconfiássemos de nossas certezas. Devemos sempre questioná-las antes de chegar a uma conclusão e não ter medo de fazer o caminho inverso”.
Genoíno não se preocupa muito com Sartre, cara leitora. Tem outros gurus: Delúbio, Dirceu, Marcos Valério, talvez, quem sabe, dona Rose, aquele assessor do irmão que carregava dólares na cueca, a turma jornalística da Tropa de Cheque.
Segue a filosofia do imperador Adriano, de Roma: “Dinheiro não fede”.
Brasil brasileiro
O prefeito de São Paulo quer espaçar os exames de poluição de carros. O PV é contra. Mas assumiu a secretaria da poluição assim mesmo. Cargo é bom!
(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.