À época afirmamos que o Brasil não tinha, como ainda não tem, condições para sediar um evento da magnitude da Copa, pois, além de sofrer coma falta de infraestrutura, o que é incontestável, assiste diariamente a sociedade sendo espoliada em seus direitos básicos, como o acesso à saúde, educação, segurança e transporte públicos.
Há algo muito errado no Brasil, pois os cidadãos trabalham quase cinco meses por ano para pagar impostos, sem que aconteça a devida contrapartida por parte do Estado. Ou seja, institucionalizou-se o assalto, mas a vítima continua inerte e complacente.
Há dias, usamos as enchentes ocorridas em São Paulo, a maior cidade brasileira, para mostrar que o País tem uma lista enorme de prioridades, que não a construção de estádios bilionários para abrigar uma competição esportiva que dura um mês.
Na noite de terça-feira (14), o Rio de Janeiro, que agora só vista do ar é uma Cidade Maravilhosa, naufragou depois de uma chuva rápida e intensa. A desculpa das autoridades é que em três horas choveu a quantidade prevista para dez dias. Como se mudasse alguma coisa se a chuva fosse programada e caísse em doses homeopáticas.
O Estado brasileiro, como um todo, é uma homenagem ao caos, mas as autoridades têm a desfaçatez de subir nos palanques para prometer mudar o que é quase imutável. Quando a FIFA escolheu a cidade do Rio de Janeiro como sua sede provisória durante a Copa, o prefeito Eduardo Paes, gazeteiro profissional, disse em tom de deboche: “Chinelada na paulistada. É humilhante… Mostro a vista e mostro um negócio desses. Vai levar o que pra São Paulo?”, disse o alcaide carioca ao mostra a Baía de Guanabara aos executivos da FIFA.
Acontece que nenhuma cidade brasileira vive apenas de paisagem. E a vergonhosa enchente ocorrida na noite de terça-feira, submergindo carros e obrigando pedestres a nadarem na água imunda e em meio ao lixo, é a imagem que deveria ser levada aos cartolas da FIFA. Não que São Paulo tenha melhores condições que o Rio de Janeiro, pelo contrário, mas é preciso estar consciente que o governo está agindo de forma criminosa ao destinar bilhões de reais a estádios de futebol, quando setores de responsabilidade pública mínguam à espera de investimentos oficiais.
Um dia, alguém creditou a ao general francês Charles de Gaulle a frase “o Brasil não é um país sério”. De Gaulle morreu e ninguém sabe de fato se a frase é sua, mas mesmo desconhecendo o autor verdadeiro é preciso reconhecer que cai como luva de pelica na realidade brasileira.