Empresas de Maluf são condenadas em Jersey a devolver mais de US$ 28 milhões à prefeitura de SP

Sinuca de bico – Ex-prefeito de São Paulo e aliado de última hora de Fernando Haddad, até porque recebeu como pagamento um cargo no Ministério das Cidades, Paulo Salim Maluf começou o ano com o pé esquerdo.

Por decisão da Justiça das Ilhas Jersey, um paraíso fiscal localizado no Canal da Mancha, empresas offshore ligadas a Maluf e seus familiares terão de devolver aos cofres paulistanos nada menos do que R$ 29,3 milhões, além de pagar US$ 4,5 milhões referentes aos honorários advocatícios.

Em novembro de 2012, a Corte de Jersey confirmou que as offshore da família Maluf fora utilizadas pelo ex-prefeito para receber o dinheiro desviado das obras da Avenida Águas Espraiadas, hoje rebatizada como o nome de Jornalista Roberto Marinho. O valor calculado no início da ação, que começou há quase dez anos, era de US$ milhões, mas com juros, multas e outros penduricalhos financeiros a soma beira os US$ 30 milhões.

Paulo Maluf, cujo nome consta da lista de procurados pela Interpol e não pode deixar o Brasil, pois do contrário será preso, continua negando ter contas bancárias no exterior. “Paulo Maluf era parte da fraude na medida em que, pelo menos no decorrer de janeiro e fevereiro de 1998, ele ou outras pessoas em seu nome receberam ou foram creditadas no Brasil com uma série de 15 pagamentos secretos”, esclareceu a Corte do paraíso fiscal.

O valor que será devolvido à prefeitura de São Paulo está bloqueado há algum tempo, mas a situação para Maluf torna-se ainda mais difícil porque parte do montante é representada por ações da Eucatex, empresa da família. As empresas da família Maluf, que integram o pólo passivo da ação, recorreram da decisão e nove sentença será proferida em março.

Por meio de duas empresas offshore criadas e gerenciadas pela família Maluf, Paulo e seu filho Flávio foram beneficiados o dinheiro da propina de 20% sobre o valor da obra acima mencionada. A propina foi viabilizada contabilmente com notas fiscais frias. Antes de chegar às Ilhas Jersey, o dinheiro passou por um banco com sede em Nova York, onde Paulo Maluf e seu filho já eram investigados.

Então promotor de Manhattan, Robert Morgenthau passou a monitorar Paulo e Flávio Maluf desde o escândalo da Metrored, empresa que pertencia ao fundo de investimentos canadense Fidelity e que contratou um escritório de lobby, com sede em Miami, para corromper autoridades paulistanas, com o objetivo de vencer licitação para a instalação de cabos de fibra ótica na capital paulista.

Como os lobistas em questão eram brasileiros, não é preciso qualquer esforço do raciocínio para adivinhar o que aconteceu. O FBI entrou no imbróglio, atirou naquilo que procurava e acertou também no desconhecido. E todos acabaram no Federal Detention Center (Centro Federal de Detenção), em Miami, onde permaneceram por longos cinco anos.

Desde aquela época, Morgenthau, que conversou sobre o escândalo com o editor do ucho.info no final do ano 2.000, estava no encalço de Paulo Maluf, até que conseguiu sua condenação e a respectiva ordem de captura internacional. Com essa decisão da Justiça norte-americana, Maluf e Flávio não podem sequer cruzar a Ponte da Amizade, que leva ao vizinho Paraguai.