Pegando carona – Nada é mais sórdido do que oportunista agindo em meio a uma tragédia. A situação piora sobremaneira quando o oportunismo tem a chancela oficial e político decide fazer politicagem, mesmo diante da dor alheia. Em visita ao Chile, a presidente Dilma Rousseff cancelou os compromissos e rumou para Santa Maria, onde um incêndio em boate da cidade da região central do Rio Grande do Sul deixou 231 mortos e 127 pessoas feridas. A presidente fez bem, pois representou oficialmente, perante os familiares das vítimas, o Estado brasileiro.
Antes de seguir para o estado gaúcho, Dilma ordenou ao ministro da Saúde, Alexandre Padilha, que fosse imediatamente para Santa Maria, como se a presença do titular de um ministério pudesse reverter a tragédia. Se a pífia atuação do governo federal deixou comprometida a saúde pública de Santa Maria, como acontece nas mais de cinco mil cidades brasileiras, não seria Alexandre Padilha o mágico a mudar o cenário que todos conhecem.
Padilha foi ao local da tragédia para anunciar o óbvio e o que está na lei. Que as vítimas seriam atendidas e que o Ministério da Saúde disponibilizaria todo o aparato necessário para o atendimento médico. O ministro não fez qualquer favor ao povo santa-mariense. Apenas aproveitou a oportunidade para falar em nome de um governo incompetente e inoperante. Nada mais.
Se o governo do Rio Grande do Sul não tem condições de dar garantias e tranquilidade ao povo gaúcho, mesmo estando a saúde pública em situação degradante, é melhor Tarso Genro arrumar as gavetas e deixar o Palácio Piratini, pois de incompetentes e de mentiras os brasileiros estão cansados.
O que pode fazer o governo federal a essa altura? Disponibilizar aviões da Força Aérea Brasileira para o transporte dos feridos a outros hospitais do estado? É o mínimo, até porque as aeronaves foram compradas e são mantidas com o suado dinheiro do contribuinte. Sem contar que essas aeronaves não devem estar a postos apenas para levar parentes de autoridades e seus amigos para cima e para baixo, como já fez um dos filhos de Lula, que carregou a sua “turma” para Brasília no “Sucatão” e em seguida transformou o Palácio da Alvorada em colônia de férias de quinta.
Alexandre Padilha é um dos pré-candidatos do PT ao governo de São Paulo, juntamente com o irrevogável Aloizio Mercadante, e deveria ter atuado nos bastidores da tragédia, não fazendo discurso que misturou o óbvio a bobagens.
Se Dilma está consternada e quer de fato fazer um enorme favor às famílias que perderam filhos e parentes na tragédia, que, em sinal de respeito, peça ao governador Tarso Genro, seu companheiro de partido, para que a Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE) redobre os esforços com o objetivo de evitar os costumeiros apagões que atingem o Rio Grande do Sul, pois é capaz de faltar luz no momento dos velórios em Santa Maria.
Padilha, veloz quando interessa
A rapidez com que Alexandre Padilha aterrissou em Santa Maria não foi a mesma dispensada à análise da denúncia de que um grupo de servidores do Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (Into), localizado na zona portuária do Rio de Janeiro, recebeu valores sete vezes maiores em horas extras do que o normal. Para tomar uma providência, o Ministério da Saúde demorou apenas oito meses.
A saúde pública no Brasil, que Lula disse um dia que estava a um passo da perfeição, é caótica e caminha como um paquiderme. As horas extras foram pagas para profissionais que fizeram plantões, cujo objetivo era aumentar o número de cirurgias no Into, em cuja fila de espera há pessoas que aguardam a vez desde 2007.
Incompetente querendo mostrar serviço à sombra do calvário alheio é degradante e desumano. Se agir é difícil, os palacianos deveriam pelo menos pensar um pouco além do limite a que estão acostumados antes de falar o que não devem.