Carlos Brickmann –
Henrique Alves, do PMDB potiguar, é o deputado que, entre outras coisas, pagava reportagens a seu favor com dinheiro público – reportagens que, aliás, saíam no jornal de sua propriedade. Amanhã é o dia em que, se tudo correr normalmente, Henrique Alves assume a presidência da Câmara dos Deputados.
O presidente nacional do PT, Rui Falcão, acusa a imprensa de perseguir seu partido. Como é que soubemos de suas acusações? Pela imprensa. Qual a origem profissional de Falcão? A imprensa. Aliás, foi diretor de uma importante revista de negócios, capitalista da primeira à última página, Exame, da Editora Abril – que, veja só o caro leitor, virou símbolo do mal desde que Rui Falcão saiu de lá.
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que o aumento da gasolina “não vai atrapalhar ninguém”. Para ele, por exemplo, não atrapalha nada: só anda de carro oficial, tão econômico que há anos não sabe o que é pagar a gasolina.
Mantega é aquele ministro que todos os anos prevê inflação baixa e alto crescimento do PIB. Até acerta: só que costuma trocar os números de um e de outro.
José Dirceu, ex-ministro-chefe da Casa Civil, condenado à prisão em regime fechado no processo do Mensalão, diz que não se calará, mesmo que numa cela de segurança máxima. Terá também aqueles celulares fantásticos, daqueles que oferecem o melhor serviço disponível no país, aqueles que ninguém bloqueia?
Mas o noticiário ainda nos oferta algumas surpresas. Como aquela foto tirada em Cuba (http://www.granma.cu) em que Lula aparece lendo um livro.
O último tango
Pelo jeito, a grande função de Mantega é amaciar as más notícias.
O Chic Chopp
O Encontro Nacional de Novos Prefeitos e Prefeitas reuniu 17 mil pessoas em Brasília, para se informar sobre verbas federais. Foi movimentadíssimo, nas reuniões e fora delas. Um dos participantes mais notáveis foi o vice-prefeito de Águas de Lindoia, SP, Edu da Chic Chopp, do PSD.
Edu da Chic Chopp foi para Brasília no carro oficial da Prefeitura; lá, buscando conhecer os meandros da capital, usou o carro oficial, dirigido pelo motorista oficial, para circular em casas noturnas. No setor hoteleiro, por cerca de meia hora, conversou com uma senhora parada na calçada (pedia informações, conforme disse, a respeito de lugares onde pudesse comer alguma coisa). A senhora, gentil, o acompanhou a um bar e depois a uma boate.
Quanto ao lanche que buscava, saiu caro. Mas comeu, sim.
Quem são os pais?
Quem deve dar orientar seus filhos: a família ou o Governo? O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, PSDB, vetou um projeto de lei que visava proibir a propaganda de alimentos e bebidas “pobres em nutrientes”, a pretexto de proteger crianças e adolescentes. Alckmin vetou o projeto por ser inconstitucional, já que esse tipo de legislação tem de ser obrigatoriamente federal. E, fora isso, tem toda a razão ao vetar o projeto: quem é que decide quais os alimentos e bebidas que podem ser consumidos?
Este colunista, ao longo dos anos, já soube que o leite era o rei dos alimentos; depois, o leite passou a ser contestado, porque se dizia que o homem era o único mamífero a consumi-lo após a desmama (o que é falso: dê leite a um gato e ele vai adorar); hoje leite voltou a fazer bem. O ovo era essencial e devia ser consumido todos os dias; depois passou a ser meio prejudicial e a recomendação era comê-lo até três vezes por semana; depois, uma vez por semana. Hoje, ovo é bom de novo. Arroz com feijão era ruim, hoje é saudável. Suco de laranja era o máximo, hoje engorda tanto quanto refrigerante. A batata, tão demonizada, salvou a Europa da fome.
Sapo de fora
Mas a questão é que quem deve educar os filhos, também do ponto de vista alimentar, é a família, orientada por especialistas em quem confie, não gente que nem nos conhece e que gosta de palpitar.
E nunca se deve esquecer outra coisa: qual o valor, em termos mensaleiros, de uma autorização para fazer propaganda?
De onde vem
O autor do projeto de lei vetado pelo governador é o presidente nacional do PT, deputado Rui Falcão – aliás, um feroz crítico da imprensa que não apoie o Governo, e que ficaria enfraquecida ao perder publicidade.
Coincidência, claro.
A função da Justiça
O Judiciário está abarrotado de processos? Pelo jeito, não: pois uma questão referente ao uniforme dos jogadores do Vasco da Gama foi levada à Justiça, aceita e julgada. De acordo com a Justiça, o Vasco não pode jogar com seu terceiro uniforme, azul, “porque o estatuto do clube veta o uso de qualquer cor diferente das do escudo”. Os clubes criaram uniformes alternativos, em cores não usuais, para facilitar a venda de camisas; e os utilizam vez por outra (o Corinthians, por exemplo, tem um terceiro uniforme roxo, e já usou um grená, em homenagem ao Torino, time italiano dizimado por um acidente aéreo). O Vasco diz que o uniforme azul já lhe rendeu R$ 1 milhão em vendas. Mas terá de abandoná-lo.
E por que a questão não foi discutida internamente no Vasco, em vez de contribuir para congestionar a Justiça? Boa pergunta.
(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.