(*) Carlos Brickmann –
A Oposição brasileira é uma das mais combativas do mundo. Luta contra os governistas, até o limite de suas forças, para tentar ser mais governista do que eles – e, com frequência, tem sucesso. A eleição de Renan Calheiros e de Henrique Alves para o comando do Senado e da Câmara comprovou que o Parlamento se divide hoje em dois grandes blocos: a situação (a Turma do Sim), liderada pelos petistas, e a oposição, liderada pelos tucanos (a Turma do Sim, Senhora).
O senador Aécio Neves, provável candidato oposicionista à Presidência da República, foi apenas meio tucano nas eleições do Congresso. O tucaníssimo bico grande ficou fechado; mas Aécio, como ninguém, mostrou que tem voo curto.
E que é que a oposição ganhou, fingindo-se contrária aos situacionistas e votando neles? Um carguinho na Mesa. Já que Presidência da República parece fora de seu alcance, já que lutar por ideias exige ideias pelas quais lutar, já que fazer oposição pede trabalho, um carguinho na Mesa quebra o galho.
Não, não é preciso voltar muito atrás para ver como se faz oposição. O PT fez oposição dura, coerente e eficiente (às vezes equivocada, mas sempre bem trabalhada) aos governos Sarney, Collor, Itamar e Fernando Henrique. Sempre tinha parlamentares em plenário, nas comissões, mostrou capacidade de mobilização da opinião pública. Alguns de seus líderes se transformaram em mensaleiros, mas só depois de chegar ao poder; na oposição, batalharam duro, até vencer.
E os tucanos? O líder da Minoria é Mário Couto, que votou aberto em Renan.
Lugar desocupado
Oposição é tão importante que, no Reino Unido, o nome completo da bancada que se opõe ao Governo é “oposição de Sua Majestade”. Aqui, quem se opõe?
Alguém, enfim
Um partido muito enfraquecido, o DEM, parece ter percebido o espaço que se abre para quem faça oposição: elegeu como líder de sua bancada na Câmara o deputado Ronaldo Caiado, de Goiás. Caiado é inteligente, duro, articulado, sabe o que quer – concorde-se ou não com o que ele queira. E certamente o que quer não é virar ministro do Governo petista. É opor-se a ele.
No momento, a posição do DEM, com bancada pequena, não terá importância; no futuro, se a oposição for bem feita, pode ganhar espaço entre os eleitores que não gostam do Governo.
Calma no Brasil
O mundo gira, a Lusitana roda, o tempo passa, o tempo voa, mas ninguém espere que o presidente da Câmara, deputado Henrique Alves, confronte alguém que tenha poder. Punhalada nas costas, vá lá; duelo de frente, jamais. Não leve a sério, portanto, essa história de que a Câmara dará a última palavra na cassação das Excelências condenadas no caso do Mensalão. O máximo que Henrique Alves fará será reunir a Mesa, comunicar oficialmente o trânsito em julgado e, “ouvida a Câmara”, determinar que os mandatos sejam cassados em virtude da sentença.
Não deixa de ser, como na antiga piada, a última palavra: “cumpra-se”.
O impossível não acontece
Até mesmo quem já viu pombo preto e urubu branco não acredita que o ex-presidente Lula seja indiciado em virtude das denúncias de Marcos Valério. O caso será analisado por um procurador da República em São Paulo e, caso vá em frente, por um juiz de primeira instância; mas seria muito pouco provável que o depoimento extemporâneo de um réu condenado a 40 anos de prisão atinja um ex-presidente da República.
A credibilidade não é o ponto forte de Marcos Valério; e o detalhe de ter lembrado de tanta coisa só depois de ser condenado não contribui para que suas denúncias sejam recebidas como se verdadeiras fossem.
Racionalizando
Quem disse que não existem eleições em Cuba? Pois houve eleições em Cuba nesta segunda-feira, com voto direto e secreto: entre 1.269 candidatos, foram eleitos 1.269 integrantes das Assembleias provinciais. Sim, em Cuba as eleições foram racionalizadas: o número de candidatos é exatamente igual ao de vagas em disputa (evita-se, assim, o desperdício de votos).
O Partido Comunista foi o grande vitorioso, com 1.269 eleitos – aliás, é o único partido autorizado a concorrer, mesmo porque é o único do país. Segundo o jornal oficial Granma, a eleição é “um dos momentos transcendentais do processo democrático cubano”.
Alô, OAB! Olha o abuso!
Atenção, OAB paulista: este caso é um escândalo. Um senhor de 70 anos, condenado a regime semiaberto, foi preso no 1º Distrito Policial de Mogi das Cruzes, SP. Seu advogado, Sylvio Alckmin, foi visitá-lo, levando-lhe água mineral e alimentos. Até aí, tudo normal – mas o carcereiro, sabe-se lá por que motivo, resolveu implicar com o advogado. Destratou-o, desacatou-o e ainda ameaçou sacar a arma. O delegado Ricardo Glória poderia prender o carcereiro em flagrante; mas preferiu fazer um boletim de ocorrência, por ameaça, injúria e abuso de autoridade. O carcereiro, apesar disso, insistiu em cometer mais irregularidades: ameaçou colocar o senhor de idade, condenado a regime semiaberto, na cela número 6, que abriga presos de alta periculosidade.
É assim que se trata um advogado?
(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.