Os boatos nada santos

(*) Carlos Brickmann –

Esta coluna nega formalmente os rumores de que o senador José Sarney esteja pleiteando o cargo de papa, no lugar de Bento 16. O senador Renan Calheiros também rejeita qualquer pretensão. Certamente têm razão: num cargo desse tipo, não há como conciliar o trabalho com as exigências familiares. Roseana, Sarney Filho, Renanzinho, de que maneira poderiam auxiliar o trabalho dos pais?

O ex-presidente Lula não se manifestou sobre o assunto, o que só fará depois que viajar para o Vaticano para conversar com o papa renunciante. “Companheiro Santidade, tem mesmo de passar o dia lendo e rezando, junto com um monte de gringo vestido de vermelho que só fala língua esquisita?” Talvez o Gilbertinho, por que não? Foi seminarista, entende dessas coisas. Mas quem é que vai lhe contar, depois, tudo o que a Dilma anda fazendo? O Zé Dirceu, também não: está com a ficha suja. Conforme o próprio Zé contou, já foi coroinha, mas terminou sendo afastado da função porque se apropriava de hóstias.

O senador Eduardo Suplicy poderia ser um nome interessante, até porque sua característica maneira de falar já lembra o tradicional cantochão eclesiástico. Mas, quando terminasse de explicar o seu projeto de renda mínima ao Colégio de Cardeais, já estaria na hora do novo conclave.

Há quem lembre um nome tucano, mas até que consigam decidir se é Aécio, Alckmin ou Serra, vários papas terão passado pelo Trono de Pedro. E Serra nem teria como aceitar: quem acha que é Deus não pode exercer cargos mais baixos.

Predestinados

Mas bem que um político brasileiro mereceria ocupar o cargo. Muitos são extremamente religiosos e sempre carregam um terço no bolso.

Sucesso e insucesso

O abaixo-assinado que pede o impeachment do presidente do Senado, Renan Calheiros, alcançou perto de 1,4 milhão de assinaturas. Com este número (que a Justiça Eleitoral ainda tem de confirmar), é possível apresentar um projeto de lei de iniciativa popular. Mas, se o caro leitor é contra Renan, não se entusiasme ainda: entre as possíveis leis de iniciativa popular, não há referência a casos de impeachment ou mesmo de afastamento de postos no Congresso. Na mais favorável das hipóteses, o que poderá ocorrer será uma longa batalha judicial.

E, cá entre nós, ache cada um o que achar de Renan Calheiros, será uma batalha injusta: ele foi legalmente eleito. Os eleitores de seu Estado, Alagoas, o escolheram para representá-los. Terão os eleitores de outros Estados preferência sobre os alagoanos, na escolha dos representantes de Alagoas? E Renan foi regularmente eleito presidente do Senado por seus pares, que por ele se acham bem representados. Se irregularidades havia, deveriam ter sido levantadas antes da votação.

Desta vez, não

As ações da Petrobras estão caindo, a inflação está subindo, importa-se gasolina e diesel, o crescimento do Produto Interno Bruto é minúsculo, há algumas divergências a respeito da maneira pela qual as contas oficiais estão sendo acertadas. Mas não se pode colocar a culpa em Guido Mantega: não foi ele que suspendeu os leilões de lotes petrolíferos, não foi ele que obrigou a Petrobras a vender seus produtos no mercado interno a preços mais baixos do que pagou, não foi ele que criou despesas e cargos para atender a demandas político-partidárias. Tudo isso chegou pronto a ele, que leva a culpa por ser quem anuncia as más notícias. Mas quem conhece Guido Mantega tem a certeza absoluta de que não é ele o culpado pelos acontecimentos indigestos.

Como de costume, ele não fez nada.

Às armas! 1

O novo Fórum de São José dos Campos, SP, não é um prédio adaptado: foi construído levando em conta suas finalidades. Não é uma construção baratinha, para quebrar o galho: custou R$ 30 milhões. E, mesmo assim, a carceragem, o local onde ficam os presos, muitos deles perigosos, está exatamente em frente ao depósito de armas. Apenas duas portas, a da carceragem e a do depósito, separam os presos das armas ali armazenadas. Mais uma crônica da tragédia anunciada.

Às armas! 2

A Rodovia dos Tamoios, que liga o Vale do Paraíba ao Litoral Norte do Estado de São Paulo, está sendo duplicada pelo Governo do Estado. A época escolhida pelo governador Geraldo Alckmin, PSDB, não poderia ser menos adequada: dificulta o trânsito durante as férias, os feriados de fim de ano, o Carnaval e a Semana Santa. Mas há coisa pior: construíram casinhas ao longo da estrada e ali armazenaram a dinamite necessária para as obras.

Os bandidos aceitaram o gentil convite e já roubaram, só ali, 85 toneladas, prontinhas para facilitar seus assaltos.

Questão de justiça

Tudo bem, os políticos brasileiros estão fora de cogitação para o lugar do papa. Mas, no país do Carnaval, quantos deles poderiam ser eleitos, cantando Mamãe eu Quero, para Rei Eu Mamo?

(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.