(*) Carlos Brickmann –
A conta de luz baixou? Baixou, mas vai subir: para evitar apagões no ano da Copa (e das eleições presidenciais), o Operador Nacional do Sistema, que comanda a produção e distribuição de eletricidade em todo o país, anunciou oficialmente que o Governo decidiu não mais desligar as usinas térmicas, que queimam gás, carvão e óleo. O objetivo é economizar água e manter cheios os lagos das hidrelétricas: não fica bem, numa época de eventos importantes, faltar luz no Brasil. Só que a energia térmica é poluente e mais cara. A conta de luz vai subir.
E a conta mais baixa? OK, antes de subir, a conta vai dar uma descidinha. Mas o abatimento vai cair na conta do Tesouro – ou seja, vai sair dos impostos que pagamos. Funciona mais ou menos assim: imaginemos que o empresário Eike Batista, por exemplo, tenha uma conta de luz bem alta. Sua residência é grande, com ar condicionado central, salas com iluminação especial (onde, lembremos, expõe aquela joia mecânica que é o Mercedes McLaren, um dos poucos que existem no Brasil), adega climatizada, piscina com temperatura controlada, essas coisas. Ele vai economizar na conta de luz, no curto período de baixa.
E quem paga por ele? Você, caro leitor; ou a moça da favela que lava roupa para fora e que paga impostos ao comprar pão, margarina e sabão. Os impostos de quem compra remédios, ou um par de sandálias de dedo, vão para o Tesouro, e de lá saem para ajudar os milionários a economizar em suas contas de luz.
Ah, não esqueçamos: o gás que move usinas térmicas é importado. Coisa fina!
Lula lá
O procurador Leonardo Augusto Melo, do Ministério Público Federal de Minas Gerais, foi sorteado para analisar o depoimento do empresário Marcos Valério, que acusa o ex-presidente Lula de ter recebido recursos do esquema do Mensalão. Segundo Marcos Valério, condenado pelo Supremo a mais de 40 anos de cadeia por seu papel no Mensalão, Lula sabia de tudo; e usou algo como R$ 100 mil para cobrir despesas pessoais. Importante: não há ainda qualquer processo contra Lula. Caso o procurador Melo encontre indícios de participação do ex-presidente em algo que considere ilegal, formulará uma denúncia que terá de ser aceita por um juiz. Até lá, é apenas análise de um depoimento – e depoimento suspeito, já que é de um condenado, e foi feito após o julgamento do Mensalão.
Mas prepare-se: este deve ser o tema do debate político de agora em diante.
Dinheiro voando
O Governo tucano de São Paulo aumentou em 26% as verbas de publicidade para 2013. A previsão é gastar R$ 226 milhões para dizer que o governador é bom. Em 2011, o governo paulista gastou R$ 118 milhões em propaganda, um pouco menos da metade de agora. Em 2011, o Governo Alckmin se iniciava. Em 2013, Alckmin já começa a se preocupar com sua reeleição, no ano que vem.
Para que? Para nada
Haverá algum cidadão de baixíssima renda que assista ao horário nobre da Rede Globo e, motivado pela propaganda, decida beneficiar-se do programa Bom Prato, do Governo paulista, que fornece refeições completas a R$ 1,00? Por que, então, a caríssima propaganda? Ao abrir a torneira, o cidadão pode optar entre a água fornecida pela empresa estatal do setor e alguma outra? Não, não pode (e também não pode escolher quem vai tratar seu esgoto). Então, para que o anúncio em rede de TV? Isso não ocorre só em São Paulo: Cuiabá estará tão bem de vida que possa gastar milhões, sem remorsos, no desfile das escolas do Rio?
Seria muita maldade achar que essas verbas compram boa-vontade, não é?
Voa, dinheirinho, voa
Dos 513 deputados federais, 484 fizeram questão de receber o 14º e o 15º salário – a extinção da escandalosa mordomia já foi aprovada, mas sentaram-se em cima do projeto e a tramitação não tem jeito de terminar. Só 29 deputados, em toda a Câmara Federal, se recusaram a receber estes salários injustificáveis (pesquise: estes 29 fazem por merecer seu voto. Os outros só merecem repúdio). Entre os que fizeram questão de receber, estão o presidente da Câmara, Henrique Alves, do PMDB potiguar, e seu vice, André Vargas, do PT do Paraná.
O presidente do Senado, Renan Calheiros, deu outro tipo de exemplo: pegou seu Carnaval estendido (três ou quatro dias é para os fracos; os espertos vivem na folia) e gastou mais de R$ 22 mil só de diárias num hotel de luxo, em Gramado.
E, evitando comentários maldosos, foi com sua esposa, dona Verônica.
O que cai do céu
Um asteroide passa razoavelmente perto da Terra (pouco menos de 28 mil km, enquanto a Lua fica a 384 mil km), e manteve a NASA de sobreaviso, até que se tivesse certeza de que não entraria em rota de colisão com nosso planeta. Uma chuva de meteoritos atinge a Rússia, ferindo quase mil pessoas (e obrigando as Forças Armadas a destruir com um certeiro míssil o núcleo do maior deles, para evitar um choque de proporções muito piores).
O Brasil, ainda bem, se manteve livre desses problemas. E não procedem os rumores de que outro asteroide, que cairia numa importante cidade do país e era possivelmente rico em metais preciosos, tenha sido roubado no espaço.
(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.