Ministro do Esporte não tem moral para exigir condenação de torcedor que provocou tragédia na Bolívia

Mostrando serviço – O governo federal não perde uma oportunidade sequer para esconder a própria incompetência. Não importa qual seja o assunto em voga, os governistas sempre pegam carona em algum fato. Desta vez a missão ficou por conta do ministro Aldo Rebelo, do Esporte, que exigiu punição aos torcedores do Corinthians que acionaram artefatos pirotécnicos no estádio de Oruro, na Bolívia, e acabaram tirando a vida de um jovem de 14 anos.

Qualquer crime precisa ser punido, independentemente de quem seja o agente. Ao ministro Aldo Rebelo (PCdoB-SP) não cabe a prerrogativa de tratar do assunto apenas porque o episódio ocorreu durante uma partida da Copa Libertadores da América. É preciso levar em consideração diversos fatores antes de exigir a condenação, como conhecer as leis vigentes na Bolívia, a qualidade da segurança pública no vizinho país e no estádio, além de aguardar as investigações.

Crimes passíveis de punição existem vários todos os dias, inclusive cometidos por agentes públicos. Se um ministro de Estado, que integra um governo corrupto e inoperante, se acha no direito de exigir a punição de um cidadão comum acusado de cometer um crime, que faça o mesmo com seus pares. Apenas para que Aldo Rebelo não tenha o trabalho de pensar, o seu antecessor no ministério, Orlando Silva, foi demitido do cargo no vácuo de considerável escândalo.

Ainda na seara do PCdoB, para Rebelo não perca tempo, há alguns outros casos para que o ministro exija punição. Em 2010, o Instituto Casa da Gente, ONG fundada por Netinho de Paula, o vereador-pagodeiro que espanca mulhees, devia aos cofres da União mais de R$ 790 mil por inadimplência em convênios firmados com o governo federal, a partir de 2003.

Assessora do vereador Netinho de Paula na Câmara Municipal, Veruska Ticiana Franklin de Carvalho comandava, em 2004, a Federação das Associações Comunitárias de São Paulo (Facesp), entidade que recebeu R$ 1,6 milhão do Programa Segundo Tempo, do Ministério do Esporte, para criar 125 núcleos esportivos nas cidades paulistas de Americana, Campinas, Mauá e Osasco. O projeto tinha como objetivo beneficiar 12.500 crianças, jovens e adolescentes. Como não conseguiu descobrir o paradeiro do dinheiro, o Ministério abriu procedimento para cobrar o ressarcimento de R$ 3,5 milhões (valor atualizado à época) por falta de execução do projeto.

Aldo Rebelo deveria se limitar a tratar de assuntos da pasta que comanda, para que o ucho.info não seja obrigado a estender a lista de condenáveis. Pegar carona em uma tragédia é típico de quem tenta fazer da incompetência um monumento à genialidade e à probidade. O mesmo Aldo Rebelo que ora pede a condenação do torcedor corintiano endossou o manifesto do PCdoB em favor do então presidente da Líbia, o ditador Muamar Kadhafi, que, assim como os irmãos Castro, dedicava truculência e covardia aos adversários.

Ao defender o ex-ditador líbio, o PCdoB, partido de Aldo Rebelo, publicou em sua página eletrônica: “Independentemente do julgamento futuro da História, Muamar Kadhafi será pelo tempo afora recordado como um herói pelos líbios que amam a independência e a liberdade”. Ou seja, um torcedor que foi o causador da tragédia não proposital tem o ministro na lista de algozes que pedem sua punição. Khadafi, que matava a esmo e de forma premeditada e covarde, tem o ministro como defensor.

A política, como se sabe, é a arte da incoerência, mas em alguns momentos o silêncio é sinal de sabedoria. E Aldo Rebelo perdeu uma enorme chance de ficar calado, pois o assunto não é da sua alçada.