I see dead people

(*) Carlos Brickmann –

Esta é a história de um ex-chefe de Estado, convencido de que o Brasil nasceu com ele e que, antes, nem chegava a ser país. Tratava-se de uma reles colônia.

Um governante hábil, cercado de um imenso cordão de puxa-sacos, que beijava suas mãos e se ajoelhava diante dele. De certa forma, tolerava a imprensa, mas gostava de imiscuir-se na orientação dos jornais e de brigar com os jornalistas que não aceitavam suas imposições. Ai deles! Os inúmeros (e bem recompensados) adeptos do guia supremo os perseguiam e agrediam nas ruas.

Mesmo gostando de aparecer, passou muito, muito tempo sem dar entrevistas.

Era chefe de Estado, mas tinha profunda afinidade com os costumes do povo. Viúvo, casou-se de novo; mas sua esposa não tinha o direito de se manifestar em público. Quem mandava mesmo era a amante paulista, que nomeava e demitia, que beneficiava a família e seus protegidos, não tendo a menor preocupação com o escândalo que provocava. Era a namorada do chefe; quem não a apreciasse tinha todo o direito de obedecê-la, favorecê-la e calar-se.

A-do-ra-va dar palpite na política de outros países. Trouxe para o Brasil, regiamente pagos, aventureiros internacionais para auxiliá-lo nas tarefas a que se propôs – jamais se incomodou que fossem estrangeiros. Fez seu sucessor, pessoa de boa-vontade, mas pouco eficiente – foi quem, por exemplo, prometeu gastar o que fosse preciso para levar água aos nordestinos.

Esta é a história, claro, de D. Pedro I, que acaba de ser exumado.

Quem é quem

D. Pedro I é interessantíssimo, merece mais estudo. Com todos os problemas que se seguiram à Independência, manteve certa liberdade no Brasil. Ao voltar para Portugal (onde seria D. Pedro IV), lutou contra o irmão D. Miguel, que queria ser rei sem limitação de poderes. D. Pedro uniu os liberais e venceu a guerra.

Por ser liberal? Em parte; e para garantir o trono a sua filha Maria da Glória.

Dirceu x ficha limpa

Frase de José Dirceu, ex-chefe da Casa Civil do presidente Lula, pronunciada no dia 21 em Chapecó, Santa Catarina, numa reunião de militantes petistas:

“Criaram a Lei da Ficha Limpa, que é uma lei completamente absurda.”

Explodindo dinheiro

A presidente Dilma Rousseff encomendou baterias antiaéreas à Rússia. É um tipo moderno e caro de armamento. Mas para que? O Brasil vive em paz com seus vizinhos, jamais foi atacado pelo ar, e os únicos países próximos com moderna aviação de guerra, Chile e Venezuela, são amigos e não representam ameaça.

Os caças que ainda não foram comprados poderiam eventualmente agir contra narcotraficantes, contra contrabandistas de armas; e as baterias antiaéreas?

Problema brasileiro

Estas armas modernas são extremamente caras. E há o problema da quantidade adquirida, dependente da capacidade orçamentária. Para tempos de paz, qualquer compra é excessiva. Para tempos de guerra, qualquer compra é insuficiente.

PT x PSDB

Do ex-presidente Lula, falando sobre os tucanos: “Eles estão inquietos, sem valores e sem propostas”. Lula tem toda a razão: sem valores, como é que a oposição poderia conquistar políticos já confortavelmente instalados no Governo?

As vozes, no Brasil

São 15 mil personalidades dos mais diversos países, dentro em pouco ao alcance de todos: o jornalista Luiz Ernesto Kawall, inspirador do Museu da Imagem e do Som, doa sua coleção de vozes, no mês que vem, ao Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo. Ali há líderes políticos brasileiros, como Carlos Lacerda, Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek (falando de música mineira), Lula, Jânio Quadros; líderes internacionais, como Martin Luther King, o presidente americano Eisenhower, o líder da revolução soviética, Lênin; intelectuais, como Monteiro Lobato (em sua última entrevista, a Murillo Antunes Alves), Sigmund Freud, Jean-Paul Sartre; mais Lampião, o marechal Rondon, o general Montgomery.

O grande trabalho de uma vida, um presente à população.

Acontece!

Calma: esta notícia não deve ser lida sem que o caro leitor primeiro respire fundo e se prepare para uma experiência inusitada. O ex-vice-prefeito de Porecatu, Paraná, Ademar Barros, devolveu ao Tesouro municipal R$ 137 mil que havia gasto irregularmente em 1991. Na ocasião, Barros, que ocupava interinamente o cargo de prefeito, comprou materiais de construção para sua casa e pagou com cheque da Prefeitura.

Claro, não foi uma devolução fácil: o Ministério Público moveu a ação em 2003 e Barros foi condenado nas diversas instâncias, até que não houve mais possibilidade de recurso. Ele, finalmente, devolveu o dinheiro. Ademar Barros é hoje advogado em Porecatu. Não quis comentar o assunto.

Marque e guarde

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que a inflação deve atingir aproximadamente 5,5% neste ano. Finalmente, uma informação confiável: agora já sabemos qual é o número que não vai dar.

(*) Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter especial, editor de Internacional, de Política e de Nacional do Jornal da Tarde.