(*) Marli Gonçalves –
…que é só de lá que pode vir solução… Tô pegando uma carona básica no tom do refrão da canção de Gil, porque além de andar com fé, e com muito cuidado para não cair no buraco, é preciso olhar para o céu. Percebi que a cada dia faço mais isto: olho para cima, para o céu, para o alto, para as nuvens, pra ver se vai fazer Sol ou chover, se rola alguma inspiração, se vai ter aquele show de luzes e sons das chuvas, se o urubu não vai…
Pelas temáticas que andam em voga aqui pelo nosso país e em nossas vidas acredito que você já deva estar fazendo isso também. Se não está, comece! No mínimo isso ajudará muito a manter a sua postura, a coluna ereta, o nariz para cima, e ninguém vai reparar o quão cabisbaixos andamos. Todo mundo não faz isso na virada do ano para ver os fogos de artifício? Pois bem, veja que eles ainda estão estourando, mas em outras praças, de São Paulo, de São Pedro, de Santa Maria, de São Sebastião (acaso soube da bomba que estouraram na OAB do Rio de Janeiro?)
Vira o pescoço. Para cima, para os lados. Veja bem como está o seu ao redor. Quando a gente reza – eu, pelo menos, e, sim, faço isso! – olho para o céu procurando um Deus. Esse Deus de quem ouviremos falar muito nos próximos dias até que a fumaça branca e espessa saia lá daquela chaminé, onde não tem Papai Noel que entre. É só Papa que sai.
No mundo esquisito tem meteoro e até nova praga de gafanhotos vindos do Egito. Fora os malucos mandando foguetes para lá, satélites, espiõezinhos.
Enfim tenho descoberto que no céu há muitas distrações e nesgas interessantes. O céu todo azul. Ou com nuvens que ficam o tempo inteiro desenhando-se e movendo-se para nós e nossas férteis imaginações. O céu todo cinza, e de onde vêm despencando torós e raios assustadores – principalmente se você está nas frágeis grandes cidades. A Lua, sorrindo ou gordinha, e as poucas estrelas que ainda dá para ver a olho nu. Como onde vivo é meio enevoado até já arrumei um aplicativo especial “Planetas”, onde me situo e a eles todos, planetas e constelações. Tempo real.
Mas também tem muito mais coisas se que passam no céu. Muitas. Ando procurando cometas; há dois meses tive a graça de ver uma estrela cadente. Acabo descobrindo que ÔÔÔ como tem gente que pode estar para lá e para cá em reluzentes helicópteros, as novas limusines. Deve ser mais uma forma de certas pessoas se distanciarem de nós, pobres mortais. Há também os jatinhos disputando espaço e barulho com os aviões comerciais. Aos domingos, dependendo, dá para ver as pipas empinadas. Nunca mais vi foi balões – a polícia deu um tranco; nem asa delta que aqui em São Paulo só dá pra pular dos prédios, e quem faz isso está querendo entrar na terra sete palmos, não olhar pro céu.
Mas hoje até que estou tentando ser otimista, vai! Vejo passarinhos. Mas otimismo que é bom dura pouco: pombas horrorosinhas em bandos fugindo do som das buzinas, aliás, do som constante, e mandando de lá do céu seus projéteis e penas. O helicóptero da policia, seguido pelos das emissoras de tevê, todos sobrevoando algumas desgraças que vemos no horário nobre, parecem todos urubus. Urubus, que, aliás, no céu, os de verdade proliferam em pares, brincando com o vento e se embalando nas correntes de ar; quando param ficam lá nas coberturas, na espreita, como bons urubus que são.
Se você tiver sorte é capaz até de avistar um gavião, mas eles não dão tanto o ar da graça quanto essas aves de rapina que estamos criando, soltas, especialmente em Brasília, e que não param de defecar suas ideias e interesses.
Tenho realmente olhado mais para o céu. Parece-me mais infinito e palpável ao mesmo tempo. Ajuda a desanuviar. E vou dizer, pensando bem: acho que tenho, por intermédio dele, implorado cada vez mais que me seja dada paciência e temperança. Com ele conto até dez para não responder a tantas bobagens que ouço, tanta sacanagem que vejo, tanta provocação.
Só mais uma coisa: se for de noite, quando olhar pro céu e enxergar uma estrela, não aponte com o dedo. Minha mãe sempre me disse que dá verruga.
São Paulo, que a fé não costuma faiá, 2013
(*) Marli Gonçalves é jornalista – Uma profissão que exige que os pés estejam bem fincados na Terra. Mas a gente ainda pode fazer aviõezinhos de papel.
Tenho um blog, Marli Gonçalves, divertido e informante ao mesmo tempo, no http://marligo.wordpress.com. Estou no Facebook. E no Twitter @Marligo